As equipes que trabalham nos escombros dos três prédios que desabaram no Centro do Rio de Janeiro na noite de quarta-feira concluirão hoje a operação de resgate e busca por vítimas. O comandante-geral do Corpo de Bombeiros e secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, afirmou que está sendo realizado um remanejamento dos escombros do local do acidente para terrenos mais amplos da prefeitura, onde haverá um ;trabalho mais minucioso; de pesquisa no entulho dos prédios, pois cinco pessoas ainda estão desaparecidas ; na sexta-feira, um dos corpos foi encontrado justamente em destroços que já haviam sido removidos.
A Secretaria de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro foi acionada para elaborar uma lista oficial de desaparecidos. Apesar de os bombeiros trabalharem com a informação de que cinco pessoas ainda não deram notícias a familiares, há informações desencontradas, pois o atendimento aos parentes era feito de forma descentralizada, em diferentes órgãos.
Do início dos trabalhos de resgate, ainda na noite de quarta-feira, ao fim da tarde de ontem, os bombeiros haviam encontrado 17 corpos em meio aos escombros. De acordo com os profissionais envolvidos na operação de retirada de entulho, não há mais possibilidade de encontrar sobreviventes. O grande volume de material gerado com o desabamento dos prédios prejudicou os trabalhos de busca. Ainda ontem, o coronel Sérgio Simões anunciou que o uso de maquinário pesado na operação foi suspenso.
Os últimos dois corpos encontrados na madrugada de sábado estavam muito mutilados e quase foram confundidos com o entulho. ;Os corpos se misturaram com as características da terra, do cimento, da lama e, em uma operação desse porte, essa possibilidade tem de ser considerada;, explicou o coronel, acrescentando que em pelo menos três restos mortais será preciso realizar exames de DNA para identificar as vítimas.
O problema, de acordo com Simões, será contornado com a utilização de cães farejadores e uma rechecagem do material que já foi retirado do Centro do Rio de Janeiro rumo a outros entrepostos de entulho. A segunda fase de buscas será mais minuciosa, sem a utilização de retroescavadeiras e pás mecânicas. As equipes também analisarão a possibilidade de corpos terem caído nos vãos de prédios vizinhos aos edifícios que desabaram.
Acessos
Além de evitar que máquinas pesadas mutilem os corpos de possíveis vítimas ainda não encontradas nos escombros, o remanejamento do trabalho de buscas do local do acidente para entrepostos de análise tem o objetivo de liberar os acessos no Centro do Rio de Janeiro. De acordo com a prefeitura, três grandes avenidas estão interditadas, entre elas a Treze de Maio, onde até mesmo pedestres estão impedidos de passar, e outras vias estão operando com mão invertida para preservar o local do acidente. Amanhã, a movimentação de trânsito e de pedestres no Centro do Rio de Janeiro tende a aumentar, devido ao fim das férias escolares e de órgãos que estavam em recesso durante janeiro. O trabalho de remoção dos escombros está adiantado e as vias próximas ao local do acidente já foram limpas.
[SAIBAMAIS]Enquanto as equipes do Corpo de Bombeiros ainda tentam conciliar o trabalho de buscas com a normalização do trânsito no Centro, o poder público e os responsáveis pela administração de obras em um dos prédios que desabou promovem jogo de empurra na hora de apontar os culpados pelo desastre. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as causas do desabamento e já ouviu o depoimento de 11 pessoas, entre feridos na tragédia e administradores do condomínio do Edifício Liberdade, que tinha 20 andares e foi o primeiro a ruir, levando abaixo as outras duas edificações. O prédio passava por reformas irregulares no terceiro e no nono andar, o que pode ter causado a tragédia.
Furtos
O comandante-geral do Corpo de Bombeiros lamentou a denúncia de que operários estariam furtando objetos das vítimas entre o entulho. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo flagrou funcionários da Secretaria Estadual de Obras recolhendo pertences de valor nos escombros dos três prédios. ;Se realmente ocorreu, e eu tenho dúvidas quanto a isso, me dá uma tristeza muito grande, porque cada um de nós está envolvido com esse cenário de intenso sofrimento. Cada corpo que é retirado, a simples visão do corpo, já é, por si só, uma agressão para todos nós.;