O índice de adultos analfabetos nas favelas do Brasil (8,4%) é o dobro do verificado nas áreas regulares (4,2%). Em rendimento, a desvantagem se repete ainda de forma mais drástica. Enquanto 27,1% das residências fora dos conjuntos habitacionais precários recebem mensalmente mais de dois salários mínimos per capita, somente 4,6% das moradias irregulares estão no mesmo patamar. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda que a população dessas baixadas, grotas, mocambos ou palafitas, entre muitos outros nomes dados pelo Brasil às áreas ocupadas ilegalmente, é jovem. Só 6,1% têm 60 anos ou mais, enquanto no restante das cidades tal indicador sobe para 11,1%.
;Talvez por serem resultado de movimentos migratórios, que foram e continuam indo para as regiões metropolitanas e as cidades médias, temos uma população mais jovem nos aglomerados subnormais;, diz Claudio Stenner, gerente de Regionalização do IBGE. O termo se refere ao conceito técnico que o instituto usa para classificar as favelas. O primeiro critério é não ter situação fundiária regularizada. Além disso, só são considerados pelo estudo aglomerados subnormais os conjuntos habitacionais com mais de 50 residências e que tenham problemas de oferta de serviços básicos ou urbanísticos. ;Uma comunidade localizada na faixa de domínio de uma linha de tensão ou de uma ferrovia, por exemplo, entra no quesito urbanístico;, explica.
[SAIBAMAIS]Entre a oferta de serviços básicos, o esgotamento sanitário é o mais grave, com mais de 30% dos domicílios em favelas sem privadas ligadas à rede geral de esgoto ou ao menos a uma fossa séptica. ;Nos demais indicadores, como água encanada e luz, verificamos desvantagem nos aglomerados subnormais, mas não com grande diferença em relação ao resto da população;, explica Stenner. Segundo ele, no caso da energia elétrica, se considerado medidor exclusivo e luz oferecida por distribuidora, o índice da população com acesso ao serviço cai de 99,7% para 72,5%, apontando uma precariedade.
Desemprego é a causa da pobreza
O desemprego é a principal causa da pobreza no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que entrevistou 3.796 pessoas para o estudo Percepção sobre pobreza: causas e soluções. O desemprego foi apontado por 29,4% dos entrevistados. A dificuldade de acesso e a má qualidade da educação (18,4%), seguidas pela corrupção (16,8%), também foram mencionadas na pesquisa. No questionário sobre o principal problema enfrentado no país, a violência foi indicada por 23% das pessoas, seguida pela saúde (22,3%), pela corrupção (13,7%) e pelo desemprego (12,4%).