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Moradores que enfrentaram alagamento em Belo Horizonte relatam desespero

O açougueiro Geraldo de Araújo, de 59 anos, mora na Rua dos Trabalhadores, no Bairro Primeiro de Maio, Norte de Belo Horizonte, há mais de 20 anos. Ele, a mulher e os cinco filhos aguardavam ansiosos a chegada do Natal, mas o ;presente; recebido na quinta-feira (15) veio em forma de medo e prejuízo. A família foi uma das inúmeras atingidas pelo transbordamento dos afluentes do Ribeirão do Onça, que transformou a Avenida Cristiano Machado e os bairros Primeiro de Maio e Suzana, na Pampulha, em verdadeiro rio sobre asfalto e concreto, como ocorreu no ano passado. Durante sete horas, a água que vazou do Córrego Pampulha, um dos tributários do Onça, tomou conta da região e mudou o meio de transporte de carros para barcos. O cenário era destruição, com ruas cobertas de lixo e lama, bocas de lobo entupidas e casas repletas de sujeira e móveis destruídos.

;Antes daquela enchente do ano passado, nunca tivemos problemas com alagamentos. Isso aconteceu depois de várias obras no Bairro São Gabriel e na Linha Verde. A gente se prepara para o Natal e agora perde tudo. A água entrou em todos os cômodos da casa e estragou tudo. O que podemos fazer? Todo ano será a mesma coisa?;, questiona o açougueiro. Vizinho de Geraldo, o militar do Exército Eduardo Ferreira, de 32, não se conformava com a segunda enchente seguida no Primeiro de Maio. ;A gente fica animado para o Natal, usa o 13; salário para comprar o que precisamos e vem essa água destruindo tudo. Será que agora todo ano teremos que esperar essa desgraça?;, questiona o militar.

A reportagem do EM chegou ao cruzamento da Cristiano Machado com a Avenida Sebastião de Brito, no Bairro Dona Clara, por volta das 10h, quando a água ainda estava nos limites do Pampulha. Rapidamente, um amontoado de lixo se formou na entrada da galeria que recebe as águas do córrego e a água se espalhou pela Cristiano Machado. Um carro tentou desafiar o rio sobre o asfalto, mas ficou ilhado e o motorista teve de abandoná-lo.

A força da correnteza transformou a Cristiano Machado em local extremamente perigoso. A BHTrans interditou totalmente o tráfego. A interrupção ocorreu desde a Via 240, no São Gabriel, Nordeste da cidade, até a Avenida Waldomiro Lobo, no Bairro Guarani, Região Norte. Da Sebastião de Brito até a Via 240, o ponto de alagamento foi um só, atingindo os dois sentidos da Cristiano Machado e passando por cima de vários obstáculos, como placas e pontos de ônibus.

Uma equipe do Corpo de Bombeiros resgatou pessoas ilhadas. Em um posto de gasolina na Cristiano Machado os funcionários subiram nas bombas de combustíveis para escapar da correnteza. Ao lado do posto, várias pessoas se abrigaram em um circo e também foram resgatadas. Funcionários do circo ajudaram a salvar pessoas ilhadas na praça em frente à Estação Primeiro de Maio do metrô, antes da chegada dos bombeiros.

A faxineira Terezinha Divino de Jesus, de 54, precisou da ajuda da filha e do genro para tirar a água e a lama que invadiram sua casa. ;Nem bem esqueci o ano passado, já perdi tudo mais uma vez. Ainda nem acabei de pagar as coisas para refazer a casa. Quem vai resolver esses problemas? Sobra sempre para o trabalhador se virar;, diz Terezinha.

Desespero
Quando a água diminuiu, várias famílias do Primeiro de Maio começaram a contar prejuízos. No caso da servidora pública Maria Bartolomeu dos Santos, de 54, o estrago nos móveis não foi dos maiores, mas o escoamento da água representa nova dificuldade. ;Agora, a casa se enche de ratos e eles fazem a festa e passam até em cima da gente. Eu estava estocando o material para consertar os estragos do ano passado e perdi toda a areia que seria usada. Tive de empilhar os sacos de cimento dentro de casa, mas ainda assim alguns foram comprometidos. Agora só nos resta contar com a ajuda de amigos e parentes;, afirma a servidora. Maria era uma das moradoras do Primeiro de Maio que foram à igreja do bairro para receber um almoço, fornecido pela prefeitura. No local, o clima era de desolação.

A loja que comercializa placas e pacotes de gesso na Cristiano Machado foi surpreendida pelo avanço da água e o prejuízo estimado gira em torno de R$ 15 mil. Como o material não pode ter contato com água, tudo que foi atingido se perdeu. ;A gente já estava escaldado pelo ano passado, mas mesmo assim fomos surpreendidos. Ainda conseguimos salvar algumas coisas, mas mesmo assim foi grande o prejuízo financeiro;, afirma o funcionário Devanil Lima.