Brasil

A dor de crianças que vivem esperando as mães cumprirem pena da prisão

postado em 13/12/2011 08:34
Luzia deixou o emprego para cuidar dos dois netos: 
a filha cumpre pena por tráfico de drogas Cuiabá ;Rafael*, 8 anos, sente forte dor na barriga ao chegar à Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, em Várzea Grande, Região Metropolitana de Cuiabá (MT), para visitar a mãe, condenada por tráfico de drogas. Ele está acompanhado da irmã, de 1 ano e quatro meses.

Ambos, separados da mãe há um ano, não se acostumam com a ausência. A menina chora de saudade todas as noites. A dor na barriga aparece quando vem a tristeza, mas Rafael se consola quando vê a avó. ;Sei que estou no coração dela e ela no meu. Assim fico feliz, mas com saudade;, diz, espremendo os olhos negros e expressivos.

A avó é Luzia*, 51. Ela, mãe de outros dois filhos, largou o emprego para cuidar dos netos e vive de doações de parentes e amigos. Essas crianças não foram privadas da liberdade ; como os bebês que vivem atrás das grades com as mães, cujo drama vem sendo mostrado pelo Correio Braziliense/Estado de Minas desde domingo (11) ;, mas foram impedidas do convívio com a figura materna. É o outro lado da moeda.

A separação forçada da mãe não é a única consequência da prisão para Rafael. Pela idade, ele já deveria estar no segundo ano do ensino fundamental, mas nunca foi à escola. A matrícula não foi aceita por falta de documentação. A irmã dele nem sequer tem certidão de nascimento. A única prova de sua existência é o cartão de vacina. A mãe, condenada, não teve tempo de registrá-la. O pai é conhecido. Sem documentos dos meninos e sem escola para Rafael, Luzia não consegue nem mesmo o Bolsa Família. Com ajuda de uma filha, ela tenta dar à neta uma certidão e matricular Rafael em uma escola.

As crianças vivem na casa pequena de tijolo batido da avó, sem ventilação e com os três cômodos entulhados de coisas. Para amenizar o calor escaldante, elas têm um quintal cheio de árvores, onde vive um cachorro sonolento. Ao voltar da visita à mãe, Rafael confessa estar faminto e pula de alegria quando Luzia anuncia o cardápio: arroz, feijão, macarrão e carne moída. Indiferente à dificuldade, ele se arrisca a convidar novos amigos para o almoço.

Joana*, de 59 anos, vive o mesmo drama de Luzia e das centenas de mulheres com filhas em penitenciárias. Lavadeira, é responsável pela criação das netas Maria, 8, e Juliana, 6, e de um bebê de 1 ano e 8 meses. Maria se derrete ao falar da mãe. Imagina para as duas um lugar lindo, com árvores, flores e pássaros. Um contraste com a aridez da vida na prisão. Diz que, quando a vê, não se cansa de dizer que está sentindo saudade e faz o apelo de sempre: ;Volte logo!” As meninas vivem na casa da avó em Jardim Vitória e dividem o espaço com outras quatro filhas de Joana. O sustento da família é de responsabilidade do avô, pedreiro. O pai, um lavador de carros, também ajuda. Joana diz que, mesmo cuidando das netas, precisa arrumar tempo para continuar lavando roupas e garantir o reforço no orçamento. A mãe das meninas está presa há dois meses, por tráfico de drogas, um assunto que faz a doce senhora mudar as feições e o rumo da prosa.

* Nomes fictícios

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