Dezesseis dias após a identificação do vazamento em um poço de extração de petróleo no Campo de Frade, localizado a 370 quilômetros da costa fluminense, representantes da petroleira norte-americana Chevron tiveram de se explicar ontem (24) ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. O presidente da empresa para África e América do Sul, Ali Moshiri, classificou a fissura como ;incidente; e tentou isentar a petrolífera de culpa na tragédia natural. A culpa, para ele, é da ;geologia complexa; da área. ;Lidamos com a mãe natureza, e a mãe natureza é complicada;, argumentou Moshiri.
O vazamento no Campo de Frade já estaria ;sob controle;, de acordo com o presidente da Chevron, e a mancha de óleo no mar ;praticamente desapareceu; ; a vedação completa do poço onde houve o acidente demorará mais 20 dias. ;Estamos de volta às operações normais;, afirmou Moshiri, em referência aos procedimentos de selar e abandonar o poço onde houve o acidente. A fala confronta a decisão da diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A entidade suspendeu as atividades de perfuração na Bacia de Campos ;até que sejam identificadas as causas e os responsáveis pelo vazamento de petróleo e restabelecidas as condições de segurança na área;. Em relação a essa decisão, o presidente informou que a empresa já se preparava para interromper a perfuração no campo para tentar entender melhor a geologia do local. ;Não estamos planejando retomar a perfuração até que a gente entenda completamente a situação;, disse Moshiri. A ANP ainda rejeitou pedido da concessionária para perfurar novo poço no campo para atingir a camada pré-sal.
Permissões
O ministro de Minas e Energia lembrou que a petroleira poderá continuar operando os outros 11 poços que possui no Campo de Frade. Isso porque a decisão da ANP restringiria apenas a perfuração de novos poços. ;Até que a ANP conclua as suas investigações e possa modificar as suas determinações, a Chevron continuará impedida de perfurar novos poços. Mas continuará operando os poços que já possui;, disse. Ainda segundo Lobão, os executivos não fizeram nenhum apelo para que o governo reveja punições contra a empresa ; a Chevron pode ter de pagar R$ 260 milhões em multas.
O secretário do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, disse ontem que estudos prévios indicam que o vazamento poderia ter sido evitado. ;Embora a empresa culpe a alta pressão exercida pelo óleo durante a extração, há estudos indicando que a Chevron poderia ter se preparado a fim de prever e evitar essa situação;, afirmou, em audiência na Assembleia Legislativa carioca.
A Polícia Federal tomará os depoimentos, hoje, de quatro executivos da Chevron. Eles devem ser ouvidos pelo delegado federal Fábio Scliar, responsável pelo inquérito sobre o vazamento na Bacia de Campos. Outros funcionários diretamente ligados à operação da plataforma prestarão informações ao longo da próxima semana. Entre as causas investigadas do vazamento, estão o erro de cálculo na perfuração, um procedimento além do previsto e a utilização de equipamentos inadequados na operação.