O mesmo Distrito Federal que pode se orgulhar de ter aumentado em 32% os recursos aplicados em segurança pública, constatou que, mesmo com todo esse investimento, em nenhum lugar do país se rouba tanto quanto na capital federal. De acordo com o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, em 2010 foram 1.032 ocorrências por 100 mil habitantes contra 988 em Sergipe e 949 no Amazonas. O índice reúne roubos a bancos, de veículos, de residências e em transporte coletivo.
Os dados mostram que o governo do Distrito Federal tem priorizado a destinação de recursos para a defesa civil e não para o policiamento. De 2009 para 2010, houve queda de 6% nos investimentos da polícia, quepassaram de R$ 106 milhões para R$ 100 milhões. Já na defesa civil os recursos subiram de R$ 754 mil para R$ 2,8 milhões.
Para o subsecretário de Operações da Secretaria de Segurança Pública do DF, coronel Jooziel Freire, é preciso avaliar a metodologia utilizada na elaboração do anuário estatístico. ;Não tivemos tempo suficiente para analisar a metodologia que eles usaram para fazer esses rankings. Mas várias informações nos causaram estranhamento, como o fato de o Distrito Federal aparecer em segundo lugar entre as unidades da Federação que menos investiram em segurança pública;, explica o coronel. ;Não sabemos o que eles levaram em consideração, porque os órgãos do DF têm liberdade para gastar e fazer aquisições. Se forem olhar só os investimentos diretos do governo, certamente haverá distorções. Também não sabemos se eles levaram em conta a folha de pessoal. Nossas polícias são as mais bem pagas do país;, comenta o subsecretário.
Crack
O coronel Jooziel Freire afirma que, este ano, houve queda nas estatísticas de todos os tipos de roubo, como os assaltos a postos de gasolina, ônibus e residências. ;Nosso trabalho já apresentou resultados positivos, reduzimos drasticamente os índices de violência. No período em que fizeram esse levantamento (2010), tínhamos mil viaturas a menos. Além disso, a Polícia Militar ganhou mais três helicópteros este ano;, justifica o subsecretário.
Sobre a quinta colocação do Distrito Federal no ranking das unidades da Federação com maior número de registros de ocorrências de tráfico de drogas, o subsecretário de Operações garante que as ações anunciadas até agora, como o Plano de Enfrentamento ao Crack e o lançamento dos centros de atenção psicossocial, são marcos importantes no combate ao tráfico de entorpecentes no Distrito Federal.
À sombra da insegurança
; Thaís Paranhos
Daniela* viu a estatística da violência no Distrito Federal se materializar dentro do estacionamento de um supermercado em Planaltina, em setembro deste ano. A mulher e o filho aguardavam familiares quando foram abordados por dois homens armados. ;Foi tudo muito rápido. A gente estava ouvindo música, quando uma pessoa parou do meu lado, apontou uma arma para mim e pediu para que eu chegasse para o lado. Um deles sentou no banco do motorista, ligou o carro e nos levou junto;, contou. Daniela viveu momentos de muito medo e temia pela vida do menino. ;Ele me ameaçava o tempo todo, dizia que ia me matar se eu não ficasse quieta e me xingava. Meu filho chorava muito;, lembrou.
Segundo ela, os parentes saíram do supermercado na hora e perceberam a violência. Eles chamaram a polícia, que localizou os carros e perseguiu os bandidos. A mulher foi deixada com o filho em frente ao Condomínio Império dos Nobres, em Sobradinho, onde pediu ajuda. Os criminosos foram encontrados por policiais militares próximo ao Balão do Colorado e levados à 35; Delegacia de Polícia, em Sobradinho II. A dupla foi autuada por roubo com restrição de liberdade das vítimas. Após o episódio, Daniela decidiu se mudar de casa com medo de ser encontrada pelos homens que a ameaçaram. ;Já fui roubada outras vezes quando trabalhava em uma loja, mas a gente nunca espera que esse tipo de coisa vá acontecer com a gente. Hoje, tenho medo, quando saio de casa olho sempre para os lados e não fico mais parada dentro do carro. O DF não é mais um local seguro para viver;, disse.
A cabeleireira Helena Moura de Sousa, 19 anos, moradora de Planaltina, também já ficou sob a mira de um revólver no DF. Há pouco mais de um ano, a moça saía do trabalho, na 302 Norte, em direção à Rodoviária do Plano Piloto, quando foi abordada por dois homens armados. Eles levaram os celulares e saíram correndo. ;Foi uma experiência horrível, não quero passar por isso novamente;, desabafou. Helena conta que se sente insegura ao andar na rua e com medo de que possa sofrer outro assalto. ;Depois disso, fiquei com muito medo de sair sozinha do trabalho. Acredito que faltam policiais nas ruas, principalmente próximo ao local onde trabalho;, alertou a cabeleireira.
* Nome fictício a pedido da entrevistada