Jornal Correio Braziliense

Brasil

ANP proíbe Chevron de perfurar poços na Bacia de Campos (RJ)

Os pedidos de desculpas feitos, ontem, pelo presidente da Chevron, George Buck, ao povo brasileiro na Comissão de Meio Ambiente na Câmara dos Deputados não convenceram a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Enquanto o executivo prestava depoimento sobre o vazamento de óleo no Campo de Frade, na Bacia de Campos (RJ), a diretoria da ANP anunciava a suspensão de todas as atividades de perfuração da empresa no território brasileiro. A medida terá efeito até que sejam identificadas as causas e os responsáveis pelo derramamento de óleo detectado no último dia 7. Além da suspensão, a agência rejeitou o pedido da empresa norte-americana de iniciar a perfuração de um novo poço próximo ao local do acidente. Essa nova operação tinha como objetivo atingir o pré-sal.

;A diretoria (a ANP) entende que a perfuração de reservatórios no pré-sal implicaria riscos de natureza idêntica aos ocorridos no poço que originou o vazamento, maiores e agravados pela maior profundidade;, informa trecho de nota divulgada pela agência. Segundo a ANP, a decisão baseou-se nas análises e nas observações dos técnicos da instituição, que constataram negligência por parte da concessionária na perfuração de poços e na elaboração e execução de cronograma para estancar o vazamento.

A estimativa é de que 2.400 barris tenham vazado. Na audiência, George Buck garantiu que a Chevron tomou todas as medidas cabíveis desde que foi constatado o problema. ;A primeira prioridade foi de proteger as pessoas dentro e no entorno da operação para que ninguém sofresse nenhum tipo de ferimento. A segunda prioridade foi de proteger o meio ambiente. Nós estamos conscientes da seriedade desta situação e assumimos nossas responsabilidades;, ressaltou Buck, que iniciou a defesa pedindo desculpas pelo ocorrido. ;Peço sinceras desculpas à população brasileira e ao governo brasileiro... Esperamos continuar sendo parceiros do Brasil para fazer jus ao destino do país em se tornar uma superpotência.;

Poucas informações
As palavras de Buck também não sensibilizaram parlamentares presentes na audiência. ;Não acredito que as desculpas do presidente sejam suficientes para sanar a indignação de todos nós que acompanhamos o desenrolar dessa novela;, disparou o deputado Sarney Filho (PV-MA). O deputado também questionou o fato de as informações iniciais sobre o episódio terem sido dadas pela própria empresa. ;É inconcebível que aqueles que estão sendo investigados sejam aqueles que forneçam o material que será usado na investigação;, ponderou o parlamentar.

A mesma questão foi levantada pelo representante da Marinha no evento, o almirante Elander Santos. ;Senti uma grande dificuldade. As informações em que estávamos trabalhando tinham a interveniência da empresa envolvida no fato. O Estado brasileiro necessita ser capaz de gerar suas próprias informações para, em função disso, fazer com que suas ações sejam de emergência;, ressaltou Santos.

TCU investiga ANP e Petrobras
; Renata Mariz


O Tribunal de Contas da União (TCU) vai investigar a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Petrobras sobre responsabilidades e eventuais prejuízos em decorrência do vazamento de óleo em um poço explorado pela empresa Chevron na Bacia de Campos (RJ). Proposta feita pelo ministro Raimundo Carreiro, a auditoria tem como objetivo apurar se a agência faz fiscalizações regulares nos planos de emergência das empresas petrolíferas que exploram o recurso natural em águas brasileiras. Quanto à Petrobras, a preocupação do órgão de controle é que a companhia brasileira não seja ressarcida dos gastos realizados para apoiar a norte-americana nos trabalhos de contingência do acidente. Ou pior: que tenha de arcar com parte das multas aplicadas a Chevron por ser uma associada no consórcio em questão.

José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, afirmou ontem, frisando que falava em tese e não sobre o caso específico, que podem existir cláusulas no contrato de operação conjunta que permitam à Chevron brigar pela divisão dos custos do vazamento. Mas afirmou que, em qualquer caso, há espaço para discussão. ;Se houver conflito, vamos contestar o pagamento, como sempre ocorre. Todo mês ocorre isso, é o dia a dia do negócio;, disse Gabrielli. Ele alegou aspectos contratuais confidenciais para não tratar do assunto. O ministro Gilberto Carvalho, da Secretraria-Geral da Presidência da República, enfatizou a disposição do Planalto de apurar o caso. ;Não faltará rigor;, garantiu o interlocutor mais próximo da presidente Dilma Rousseff. ;Está em jogo todo o nosso futuro em termos de pré-sal e nosso cuidado ambiental é muito grande.;

Ontem, foi dia de oitivas na Polícia Federal. A expectativa era de que o delegado Fábio Scliar, da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico e Cultural, ouvisse três funcionários da Chevron, mas o órgão não divulgou informações sobre o conteúdo dos depoimentos, alegando que o processo corre em sigilo. A previsão de que o óleo possa alcançar praias fluminenses foi refutada ontem pelo presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Curt Trennepohl. ;A informação que eu tenho, dos nossos técnicos, é de que é muito remota a chance de chegar ao litoral;, disse Trennepohl, antes de participar de audiência pública na Comissão de Meio Ambiente da Câmara.

Multas milionárias
A norte-americana Chevron, que explora o Campo de Frade em consórcio com a Petrobras e uma companhia japonesa, já foi multada em R$ 50 milhões pelo Ibama, mas pode ter de pagar até R$ 260 milhões em punições. Dois processos estão abertos na ANP, que, juntos, podem resultar em uma sanção de R$ 100 milhões. Além disso, o governo do Rio de Janeiro e a Defensoria Pública do estado pretendem exigir indenizações em função dos estragos provocados.