Líder de uma comunidade Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul, Nísio Gomes, 59 anos, foi executado, na manhã de ontem, por pistoleiros. Segundo relatos, cerca de 40 homens, divididos em 10 carros, chegaram encapuzados e atiraram no cacique. Uma comissão composta por funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério do Desenvolvimento Social e das polícias Federal e Civil foram ao acampamento para investigar o crime.
O grupo de cerca de 60 índios ocupou terras localizadas entre os municípios de Amabai e Ponta Porã no início deste mês. A região está em processo de identificação pela Funai desde 2008 e fica no meio de três fazendas próximas à fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Apesar do ataque, os índios afirmam que não vão desocupar o local.
Testemunhas afirmaram que os pistoleiros chegaram por volta das 6h30, cercaram Nísio e mandaram todos se deitarem no chão. O filho do cacique tentou protegê-lo e foi agredido. Há suspeita de que outros integrantes da comunidade tenham sido sequestrados, mas as informações estão desencontradas. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) afirma que outros três jovens foram baleados; o MPF fala em uma criança e uma mulher desaparecidas. Mas nenhuma informação foi confirmada porque, após o ataque, os índios se dispersaram na mata.
Nísio foi baleado na cabeça, no peito, nos braços e nas pernas, e seu corpo foi levado pelos homens, prática comum nos ataques feitos à etnia. A perícia policial confirmou a presença de sangue humano onde os índios relatam que foram efetuados os disparos. O filho do cacique foi para o Instituto Médico Legal com marcas de tiros de borracha pelo corpo.
O Mato Grosso do Sul tem uma população de 70 mil índios das etnias Guarani, Kaiowá e Terena, a segunda maior do país. De acordo com o MPF, a etnia que mais sofre atentados é a Guarani Kaiowá. A taxa de homicídios é de 100 para cada 100 mil habitantes, quatro vezes a média nacional.
O acampamento Guaiviry, onde ocorreu o atentado, fica à beira da rodovia MS-386. Os índios ocuparam o local alegando que querem retomar um território ocupado pelos seus antepassados.