A miséria extrema e a pujança econômica dividem o país em dois Brasis. A desigualdade social diminuiu, mas os dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam que ainda existe um abismo social entre ricos e pobres. Na última década, o índice que mede a concentração de renda do país caiu de 0,611 para 0,526 ; quanto mais próximo de 1, mais desigual. Mas as discrepâncias entre a riqueza de diferentes parcelas da população continuam graves. O Distrito Federal concentra o maior rendimento médio do país ao mesmo tempo em que lidera o ranking da desigualdade. A capital federal é o lugar com a maior diferença entre a renda de pobres e ricos.
No DF, a renda mensal dos domicílios é de R$ 4.635, quase o dobro da de São Paulo, segunda Unidade da Federação com os maiores ganhos familiares. O Piauí, com R$ 1.354, e o Maranhão, com R$ 1.274, estão na lanterna do ranking. Em meio à aparente riqueza local, porém, estão os extremos, que conferem à cidade o título de capital da desigualdade. No Lago Sul, por exemplo, a renda média é de R$ 6 mil mensais. Em Planaltina, o valor é quase 10 vezes menor. Lá, a população tem rendimento de R$ 645. As diferenças por cor também continuam gritantes. Em todo o país, brancos recebem mais que o triplo de negros e pardos, enquanto mulheres ganham quase 50% a menos que homens.
[SAIBAMAIS]Na esteira das diferenças monetárias, também estão as contradições nos indicadores sociais. Embora o analfabetismo tenha caído, 670 mil crianças de 10 a 14 anos não sabem ler nem escrever. Meio milhão de brasileiros vivem sem certidão de nascimento e 35 mil bebês morreram antes de 1 ano nos últimos 12 meses, sobretudo por falta de serviços essenciais. A aquisição de bens melhorou. Depois de geladeira e tevê, já consolidados, as famílias começam a adquirir computador, máquina de lavar e carros. Mas todos os indicadores são mais baixos na zona rural, que em muito lembra o Brasil de uma década atrás.