No primeiro dia de varredura na Rocinha, no Vidigal e na Chácara do Céu, favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro ocupadas pelas forças de segurança no domingo, os agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) encontraram cerca de 100 camisetas semelhantes às usadas pela Polícia Civil. A suspeita é de que traficantes usavam as peças para sair das comunidades disfarçados e, assim, escapar do cerco montado dias antes da entrada da polícia. Drogas, máquinas caça-níqueis, quatro rádios transmissores, uma réplica de pistola, uma farda do Exército, material hospitalar, três centrais clandestinas de TV a cabo, um Astra, 50 cartões de crédito e 21 mil mídias piratas, entre CDs e DVDs, fazem parte do balanço mais recente da operação.
Ontem, foi levado da Rocinha o quinto preso desde que a operação batizada de Choque de Paz foi deflagrada, na madrugada de domingo. Aroldo dos Santos, 31 anos, que era foragido do regime semiaberto, decidiu se entregar. Membros da associação de moradores da Rocinha intermediaram a rendição com o subtenente Marco Antonio Grippe, que elogiou a atitude do rapaz. ;Esse é um exemplo que deve ser seguido;, disse Grippe. Aroldo contou que resolveu se entregar por causa dos filhos pequenos. A mãe, que não se identificou, ajudou a convencer o filho a se entregar. ;É um menino de ouro, mas a cabeça;;
Embora Antonio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, tenha sido preso na quarta-feira passada, informações do setor de inteligência da polícia fluminense apontam que cerca de 200 traficantes ainda estariam na região. O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, destacou que as investigações apontam que Nem tinha um esquema de segurança até fora da favela. Ele confirmou que será feita uma apuração para identificar todos que davam apoio ao traficante. ;Qualquer palavra que tiver no depoimento dele (Nem) será minuciosamente avaliada. O que já tínhamos de informações sobre o caso se executou. Também vamos agir no sentido de prender essa quadrilha que atua fora da favela;, disse Beltrame.
Segundo o secretário, cerca de 900 policiais devem integrar a UPP da Rocinha, ainda sem data para ser instalada. O trabalho anterior à implantação da polícia pacificadora começou ontem, com a retirada de lixo, a avaliação da necessidade de obras por técnicos e o fornecimento de serviços básicos, como água e luz, entre outras melhorias. Os cálculos do governo estadual apontam para um investimento inicial de R$ 100 milhões. Algumas das ações já estavam em andamento antes da ocupação ; como a construção de uma creche, de uma biblioteca e de um centro para a juventude. Recursos do PAC 2, na ordem de R$ 700 milhões para obras de urbanização e de construção de um teleférico, também estão previstos.
A Caixa Econômica Federal anunciou que inaugurará agências no Vidigal e na Rocinha. O Banco do Brasil, na Rocinha. Uma parceria do governo com a iniciativa privada para oferecer TV por assinatura a preços populares na comunidade pode ser selada nos próximos dias. ;Vamos acabar com o serviço ilegal que alimenta o crime e o poder bélico;, disse o secretário estadual de Assistência Social, Rodrigo Neves.