Em cerca de duas horas, sem que nenhum tiro fosse disparado, 3 mil policiais tomaram as favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, localizadas em uma área nobre do Rio de Janeiro entre os bairros de Leblon e São Conrado. Densamente povoadas, cercadas por matas, ocupando um ponto estratégico para o fornecimento de drogas para a classe média e alta e com histórico de domínio por facções violentas, as comunidades sempre representaram um enorme desafio na política de segurança pública fluminense. Ontem, pouco depois do meio-dia, as bandeiras do Brasil e do Rio foram hasteadas no alto dos morros, em um sinal de que, depois de três décadas sob o controle de traficantes, a população renova suas esperanças. A ideia é implantar no local a 19; Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do estado, ainda sem data para ser lançada.
Quatro pessoas foram presas durante a operação que começou na madrugada de ontem, por volta das 4h, com o auxílio de sete helicópteros, 609 carros e 24 blindados. Embora a reação à bala não tenha ocorrido, os bandidos montaram barricadas nas ruas íngremes das favelas para evitar a entrada dos veículos. Um blindado do Batalhão de Choque da Polícia Militar teve que retornar ao pé do morro do Vidigal por causa da grande quantidade de óleo que havia sido derramada pelos traficantes no asfalto. Mas os tanques da Marinha conseguiram prosseguir. Enquanto isso, máquinas da prefeitura, como retroescavadeiras, trabalhavam para retirar os obstáculos colocados no asfalto. Fuzis, granadas, escopetas, drogas e motos roubadas foram encontrados pelos policiais durante a varredura nas favelas.
De acordo com Censo 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as três favelas têm população de pouco mais de 80 mil pessoas. Mas estimativas do governo estadual apontam para uma quantidade maior. ;Nós estamos recuperando esse território para os 100 mil moradores da Rocinha. Sim, 100 mil, e isso mostra a distorção dos números do IBGE. E são mais 20 mil no Vidigal. Pessoas que precisavam de paz. Creio que é um dia histórico e emocionante para todo o Brasil e, principalmente, para o Rio de Janeiro;, disse o governador Sérgio Cabral, que conversou com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por telefone, depois que as comunidades foram tomadas pelas forças de segurança.
Início da operação
O sol nem havia nascido quando os homens da Polícia Militar e da Marinha começaram a entrar nas favelas. Blindados davam proteção em caso de reação dos bandidos" />
Refúgio do tráfico
Casa do traficante conhecido como Peixe, preso na semana passada quando tentava fugir da Rocinha, exibe luxo raro na favela: piscina coberta com área de lazer" />
Bens apreendidos
Cerca de 75 motos, muitas delas com registro de roubo, foram recolhidas pelas forças de segurança, que também encontraram drogas e armas na região ocupada" />
Hidromassagem
A comemoração do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, foi mais comedida. ;O que começou hoje não tem data para acabar. A área, sem dúvida, é muito grande. Trata-se de uma das maiores favelas da América Latina, e talvez do mundo;, afirmou Beltrame. ;O que temos de concreto é a libertação dessas pessoas do jugo do fuzil.;
Beltrame não deu prazo para a instalação da UPP nos territórios ocupados. O secretário destacou que o cronograma é de responsabilidade do Bope, que começa, a partir de hoje, a preparar o local para a chegada da polícia pacificadora. O secretário de Segurança também não confirmou se a casa do traficante Nem, preso quarta-feira quando tentava fugir da Rocinha, será usada como base para a futura UPP. Outras residências luxuosas foram estouradas pela polícia durante a operação. Helicópteros jogaram panfletos para a população com telefones para fazer denúncias anônimas sobre esconderijos de drogas, armas e traficantes.
Uma ossada foi localizada pela polícia em um local apontado por moradores como um cemitério clandestino. Os agentes também descobriram uma central de distribuição de TV a cabo pirata, conhecida como gatonet. Ainda na madrugada de ontem, Igor Tomás da Silva, de 29 anos, saiu da comunidade carregado por dois homens em uma motocicleta, aparentando passar mal. Depois de atendido no hospital de campanha montado na quadra da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, os policiais decretaram sua prisão. Ele era foragido do presídio Bangu 8, com passagens na polícia por assalto à mão armada.