São Paulo ; Pelo menos oito das 73 pessoas que foram presas e liberadas após pagamento de fiança por terem ocupado durante 12 dias o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) não são estudantes da instituição, segundo divulgou na quarta-feira (9/11) a 91; Delegacia de Polícia da capital. Três são alunos de outras universidades e cinco, funcionários do câmpus. ;Eles não estão aqui para dar segurança, mas para espionar os movimentos políticos;, disse o estudante de história Fábio Abreu, 23 anos. Os alunos que não pertencem à USP não quiseram justificar em depoimento porque faziam parte da ocupação do prédio.
Enquanto os detidos eram liberados, estudantes decidiram, na noite de terça, iniciar uma greve. A reitoria informou, no entanto, que o calendário de atividades da instituição será mantido. E a posição ganhou força no início da noite de ontem, quando os professores decidiram, em assembleia, não aderir à paralisação dos alunos.
Por meio de advogados do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), os estudantes fichados pela polícia ficaram sabendo que poderão ser indiciados por dano ao patrimônio público e por desobedecer a uma ordem judicial, de desocupação da reitoria. Três pais compareceram à delegacia para buscar os filhos e pediram que o delegado retirasse a queixa, alegando que eles não participariam mais de protestos dentro da cidade universitária. As solicitações foram negadas.
Um grupo de auditores inspecionou ontem o prédio ocupado. Além de paredes pichadas, móveis foram danificados, janelas quebradas e equipamentos de informática destruídos. A reitoria faz um inventário para chegar a um valor total do prejuízo e responsabilizar as 73 pessoas detidas na madrugada da última terça-feira. O diretório estudantil, que tinha representantes na ocupação, nega que os alunos tenham destruído qualquer objeto. ;Pelo contrário. Nós tivemos mais cuidado porque já sabíamos que eles iriam alegar esses danos. Nós temos tudo filmado;, garantiu o aluno de letras Marcello Vasquez, 25 anos.
[SAIBAMAIS]O uso de imagens, aliás, transformou-se no novo embate entre policiais e manifestantes. Ontem, em vídeos divulgados por estudantes, há depoimentos de pessoas denunciado emboscadas e excesso de força por parte de integrantes do Batalhão de Elite da Polícia Militar. Já na gravação divulgada pela PM, militares narram a operação afirmando que foi feita uma barreira policial entre o Conjunto Residencial da USP (Crusp) e o prédio ocupado para impedir a entrada de estudantes na reitoria. Segundo o major Marcel Soffner, não houve agressões. ;O cerco foi medida preventiva.;
Mas os moradores do Crusp alegam que, durante a operação, que contou com cerca de 400 policiais, eles foram impedidos de saírem de suas moradias. Bombas de gás lacrimogêneo teriam sido usadas para evitar a movimentação. No prédio, a frase Fora PM, pichada em letras garrafais, indica o descontentamento dos moradores com a ação da Tropa de Choque. O major Marcel Soffner alega que o gás foi empregado ;para evitar mal maior;. Segundo ele, não foram usadas armas letais e nenhum tiro foi disparado contra os alunos. ;Não houve feridos;, afirma. Cerca de 50 homens fazem a segurança da reitoria e vigiam as principais entradas de acesso da cidade universitária.