Jornal Correio Braziliense

Brasil

Desigualdade social é o principal fator que mantém IDH do Brasil baixo

Embora tenha subido uma posição ; de 85; para 84;, entre 187 países ; no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil continua atrás de nações como Bósnia (74;), Cazaquistão (68;), Kuwait (63;) e Trinidad e Tobago (62;). Ao mesmo tempo, vizinhos com economias bem mais modestas, como Argentina (45;) e Chile (44;), integraram, este ano, o seleto grupo de Estados com a mais alta qualidade de vida no mundo. O motivo fica evidente quando considerado o IDH ajustado à desigualdade social (IDHD). Nesse índice, calculado para 134 países, o Brasil subiria 41 posições caso eliminasse as disparidades internas, considerando as condições atuais nas demais nações. Essa ascensão levaria o país ao estágio ;desenvolvimento humano muito elevado;, a classificação de elite do Pnud, onde estão incluídos Noruega, Canadá e Suécia.

Além da concentração de renda, responsável por 40% da desigualdade medida pelo IDHD, a educação é apontada como catalisador essencial para acelerar o desenvolvimento humano brasileiro ; que, na última década, cresceu lentamente, a 0,69% ao ano, contra o ritmo verificado entre 1980 e 2000, de 0,87%. Para se ter ideia do tamanho do desafio, os brasileiros têm, em média, 7,2 anos de escolaridade, o mesmo número observado no Zimbábue, cuja posição no ranking do IDH é de 173;. O país está atrás, por exemplo, de Botswana, onde a média de escolaridade chega a 8,9 anos, e do Tajiquistão, com 9,8. Já no quesito expectativa de vida ; que completa o tripé renda, educação e saúde, usado no cálculo do índice ;, o Brasil subiu de 73,1 anos, em 2010, para 73,5 em 2011. Jose Pineda, chefe do grupo de pesquisa do IDH, explicou que, devido a esse aumento, a saúde foi a variável com a maior contribuição para o índice brasileiro deste ano.

Apesar do avanço destacado, a expectativa de vida dos brasileiros está bem abaixo não só dos primeiros colocados no ranking, como a Noruega, onde se espera viver 81 anos, como das nações com características semelhantes. Na Colômbia, por exemplo, a esperança ao nascer é de 73,7; na Argentina, de 75,9; e no México, de 77. No que depender do servidor público aposentado Eurípedes do Nascimento Arantes, em breve, o Brasil alcançará níveis mais elevados. Aos 80 anos, idade equiparável à expectativa dos países nórdicos, ele recorda os avanços na saúde pública ao longo das últimas décadas. ;Quando eu era garoto, a gente só via remédio de planta e tomava com base no conhecimento popular, não havia médico nem hospital como hoje;, comemora.

O economista Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que o Brasil avançou na última década, quando a renda da população mais pobre cresceu 350%, mas destaca que a desigualdade permanece como principal característica negativa do país no cenário internacional. ;A melhor forma para combater isso é atacar o problema da educação. Esse é o pilar que pode dar bases mais sólidas para a evolução do IDH brasileiro;, acrescenta.

Transferência de renda
Pós-doutor em sociologia do desenvolvimento e professor da Universidade de Brasília, Marcelo Medeiros explica que os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, não causam qualquer impacto na redução das disparidades. ;São desenhados para reduzir a extrema pobreza. Até porque a quantidade de dinheiro usada no programa do governo federal está entre 0,5% e 1% do PIB, é pouco.;

Flávio Comim, pós-doutor em economia e consultor do Relatório do Desenvolvimento Humano de 2010, chama a atenção para a expectativa de escolaridade no Brasil, que diminuiu de 14,5 anos, em 2000, para 13,8, em 2011. ;Isso significa que a qualidade do sistema educacional caiu. Espera-se que uma criança que entra hoje na escola estude menos do que se esperava no início da década;, afirma.


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O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) estabelece quatro níveis de classificação. No primeiro quadrante, que vai do 1; lugar ao 47;, estão os países de desenvolvimento humano muito elevado. O segundo, que abrange do 48; ao 94;, abriga os de desenvolvimento humano elevado. No terceiro, do 95; ao 141;, estão nações classificadas como de desenvolvimento humano médio. E no último quadrante
ficam os considerados de baixo desenvolvimento humano.


A melhor forma para combater a desigualdade é atacar o problema da educação. Esse é o pilar que pode dar bases mais sólidas para a evolução do IDH brasileiro;

Marcelo Neri, economista e pesquisador da FGV