Jornal Correio Braziliense

Brasil

Estudantes fazem manifestação para pedir a presença da PM no campus da USP

São Paulo ; Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) fizeram nesta terça-feira (1;) uma manifestação, convocada por meio das redes sociais, para apoiar a presença da Polícia Militar (PM) fazendo a segurança da Cidade Universitária, localizada na zona oeste da capital paulista. A manifestação ocorreu na Praça do Relógio e reuniu cerca de 200 alunos.

O ato foi uma reação aos colegas que ocuparam o prédio da diretoria da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na noite da última quinta-feira (27), em protesto contra a atuação dos policiais militares (PMs) no campus. Eles dizem que só vão desocupar o prédio quando o convênio firmado entre a universidade e a Secretaria de Segurança Pública (SSP), que prevê a presença de policiais, for suspenso. O prédio foi ocupado após um confronto ocorrido entre estudantes e PMs, depois que três alunos, flagrados fumando maconha, foram detidos no estacionamento da faculdade.

Na convocação para a manifestação de hoje, os organizadores declaram que ;a presença da Polícia Militar é necessária; por causa da falta de preparo da Guarda Universitária para exercer o trabalho de segurança do local.

A estudante de letras Marina Grilli, uma das organizadoras da manifestação, reconhece admite que a Polícia Militar não tenha condições de resolver todos os problemas, mas reconhece que ela é a melhor solução, a curto prazo, para a universidade. ;A PM é o que temos agora. E diminuiu em muito, sim, a criminalidade no campus. Então não faz sentido algum pedir a sua retirada;, disse.

;Antes da morte do aluno da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) tínhamos menos polícia e eu me sentia menos seguro. Agora temos visto rondas, e está bem mais tranquilo andar [aqui];, disse Henrique Ianelli Gonçalves Luiz, estudante de engenharia elétrica, um dos participantes da manifestação.

Renan de Oliveira, diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE), declarou que o órgão defende o aprofundamento do debate entre os estudantes sobre o tema. ;Não achamos que existam verdades absolutas, nem que a polícia seja a única saída, nem que a ausência da polícia, agora, vá resolver o problema que vimos ao longo do ano de insegurança e violência. O que não queremos é que estudantes se aproveitem desse clima de insegurança para fazer política em cima disso;, disse.

Na opinião de Oliveira, o consenso entre as partes sobre o assunto pode enfrentar dificuldades, mas irá ocorrer. ;Isso não virá da noite para o dia. A universidade tem 80 mil pessoas, e essa é uma questão bem problemática. Precisamos ter uma mesa de debate e envolvimentos dos professores. A universidade produz conhecimentos para muitas áreas e tenho certeza de que para resolver esse problema da segurança e da circulação de estudantes, a universidade pode auxiliar os estudantes a tirar uma posição sobre isso;, declarou.

Para o tenente-coronel José Luiz de Souza, comandante do 16; Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na região do Butantã, em São Paulo, ;não há excesso; na abordagem policial dentro do campus. Souza explicou que o trabalho desenvolvido pela PM dentro da USP é de ;prevenção de delitos. ;A abordagem policial é um dos recursos estratégicos que a instituição utiliza, em todo o território paulista, para reprimir ilícitos. Não há abuso. É uma estratégia usada pela polícia há muitos anos;, disse.

Segundo Souza, o confronto ocorrido entre a PM e os estudantes foi, principalmente, pela falta de diálogo e excesso dos estudantes. ;Estive presente, aqui, no momento em que isso aconteceu. A polícia militar adotou todos os recursos e esgotou todos os meios que tinha de negociação para fazer com que esse fato transcorresse da maneira menos traumática possível. Mas a partir do momento em que houve o cerco à viatura da polícia, a quebra dos vidros, as agressões, o rapaz subindo em cima da viatura, aí, evidentemente, a polícia não teve outra alternativa a não ser fazer uso da força necessária para desobstruir e garantir a segurança;, declarou.

Neste momento, os estudantes da USP estão fazendo uma assembleia no prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Centenas de alunos acompanham a reunião, que discute a questão da segurança no campus. A assembleia também pode decidir sobre a desocupação do prédio da administração da FFLCH. Em um manifesto, os alunos que ocupam o prédio questionam a presença da Polícia Militar no campus. ;Simultaneamente à repressão policial, que ocorre tanto na USP quanto fora dela, a reitoria tenta extinguir os espaços políticos e culturais de organização dos estudantes;, diz o documento.

O convênio entre a USP e a Secretaria de Segurança Pública foi firmado em setembro, após meses de negociação. Em maio deste ano, o estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos de idade, foi assassinado durante um assalto.

Ontem (31), a Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, formada por 50 professores, funcionários e alunos, declarou, por meio de nota, a sua disposição para negociar o conflito. ;A congregação envidará todos seus esforços para desarmar o conflito e conduzir seu desfecho à mesa de negociações;.