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Policiais, amigos e familiares tentam entender as razões do crime em escola

São Caetano do Sul (SP) ; David Mota Nogueira, 10 anos, era bom aluno e querido pelos colegas de classe. Em casa, obediente e gentil. A partir de relatos como esses, feitos por familiares e professores, a Polícia de São Paulo e a Secretaria de Educação do estado tentam entender o que levou o garoto a atirar na professora Rosileide Queiros de Oliveira, 38 anos, e se matar em seguida. Sob forte comoção, o estudante foi sepultado ontem, um dia após a tragédia, no Cemitério das Lágrimas. A cerimônia foi acompanhada por cerca de 200 pessoas, segundo a Polícia Militar.

Em depoimento informal na delegacia, a diretora da Escola Professora Alcina Dantas Feijão, Márcia Gallo, reiterou que não há qualquer registro de indisciplina de David na escola. ;Ele era um aluno como os outros. Nunca houve nenhum tipo de atrito entre ele e a professora. Também nunca foi suspenso e não sofria bullying. Era muito querido pelos colegas de classe;, ressaltou

[SAIBAMAIS]Ontem pela manhã, a escola, que é considerada modelo na região, estava cercada de populares. Pais e estudantes que conheciam o menino contaram que ele gostava de armas e que, em outras ocasiões, havia levado o revólver do pai para o colégio. ;O meu filho contou que o David levou a arma para a sala de aula outras vezes, mas ninguém viu. Ele só dizia para os colegas que estava com um revólver na mochila;, relatou a dona de casa Maria de Fátima Nemeth, 42 anos. A polícia tenta confirmar a informação.

Hospital
A amigos e parentes que foram visitá-la no Hospital das Clínicas, onde está internada, a professora Rosileide relatou que David era um dos melhores alunos da classe em notas e comportamento. Rosileide contou que ele havia pedido para ir ao banheiro e, ao voltar, entrou rápido na sala de aula, apontou a arma para ela e começou a disparar sem dizer uma palavra. Na noite do incidente, a professora, que não corre risco de morte, foi submetida a uma cirurgia para a retirada do projétil.

;A hipótese mais provável é que ele tenha cometido esse ato envolvido num mundo de fantasia de tanto assistir a filmes policiais;, disse uma tia de David que estava no enterro do garoto e que não quis se identificar. Tio do menino, Maurílio Nogueira, 38 anos, conta que ele sempre pedia ao pai armas de brinquedo. ;Uma vez, ele veio pedir para mim e eu expliquei que elas não podiam ser vendidas no Brasil justamente para evitar que bandidos usassem em assaltos;, conta Maurílio.

Dono da arma usada na tragédia, o pai do garoto, o guarda municipal Nilton Nogueira, poderá ser processado e preso por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Segundo o secretário de Segurança de São Caetano do Sul, Moacyr Rodrigues, ele já prestou um depoimento informal, em que não foram descobertos muito detalhes. Moacyr disse ainda que é possível que o pai não seja punido judicialmente. ;Ele pode ser beneficiado porque as consequências da infração atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária;, ressaltou.

Violência se repete
Casos de violência envolvendo estudantes se repetiram ontem em outros locais do país. Em Sapé, na Zona da Mata paraibana, uma jovem de 16 anos foi esfaqueada por uma colega de 17 na Escola Estadual Monsenhor Odilon Alves Pedrosa. Segundo testemunhas, as adolescentes iniciaram uma discussão no pátio do colégio. A garota de 16 anos foi, então, à cozinha da escola, pegou uma faca e golpeou a colega várias vezes. A adolescente ferida foi levada em estado grave ao hospital. Em Boqueirão (PR), cerca de 300 jovens saíram da escola e foram acompanhar, em uma rua do bairro, uma briga marcada pela internet. A Guarda Municipal e a Polícia Militar impediram o confronto. Três adolescentes foram apreendidos. Com eles, foram encontrados um soco inglês, uma barra de ferro de 30cm e uma faca de caça pequena.