Entrevista com o professor Jorge Almeida Guimarães - Presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
Como o senhor vê a situação das universidades brasileiras, em comparação com as estrangeiras?
O sistema universitário brasileiro é muito jovem, tem menos de sessenta anos. A universidade mais antiga é a USP, que só tem 77 anos. Comparado com o sistema europeu, é uma criança. Sendo tão jovens, estamos em pleno desenvolvimento e aperfeiçoamento das nossas atividades. Ainda temos muita influência do exterior na construção do conhecimento, mas estamos criando nosso próprio modelo.
Por quê não há universidades brasileiras nas listas mundiais de excelência?
Não podemos haver mesmo, nossas universidades são muito jovens! Quando a USP foi criada, Harvard já tinha 300 anos, não é possível comparar as nossas com as mais antigas do mundo. Mas, o Brasil tem tido muito sucesso em certas áreas, como na agricultura, na automação bancária, que é considerada a melhor do mundo, na exploração de petróleo, na fabricação de aviões e no desenvolvimento de papel celulose.
Qual é hoje o maior desafio na educação superior?
O grande desafio, hoje, é quantitativo. Não há o número suficiente de doutores do conhecimento que precisamos ter. No Brasil, há uma média de apenas 1,4 doutores para cada mil habitantes, entre 25 e 64 anos. Na Austrália, são 8, no Canadá, são 6,5 e, em casos excepcionais, como a Suíça, são 28.
Quais são as prioridades no aperfeiçoamento da educação?
A graduação e a pós-graduação nas áreas tecnológicas são fundamentais. Menos de 6% dos formandos no Brasil são da Engenharia, um percentual muito baixo, se comparado a outros países de desenvolvimento semelhante, como China, Coréia e Cingapura. Outra prioridade é a formação de professores para o ensino médio, é preciso pagar melhores salários. Todas as outras áreas do conhecimento se beneficiam se essas duas prioridades forem atendidas.
Como vê os questionamentos da imprensa e de entidades britânicas sobre a qualidade dos alunos brasileiros que poderão ir a universidades do Reino Unido com bolsas oferecidas pelo governo brasileiro?
Não vamos mandar para lá qualquer estudante. Haverá uma seleção rigorosa para que os melhores sejam enviados. Mas, não devemos usar o parâmetro de classificação do Reino Unido, que cria rankings de melhores universidades cheios de viés. Por exemplo, as universidades alemãs, que são as melhores em Engenharia, quase não aparecem nessas listas. O Reino Unido já foi o segundo destino preferencial dos alunos da Capes e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas caiu para o sexto lugar. Hoje, há interesse de empresas privadas britânicas em financiar bolsas para estudantes brasileiros. A British Gas vai bancar o custo de alguns alunos brasileiros que vão para o Reino Unido, porque a empresa tem interesse no Pré-sal brasileiro. O Brasil é a bola da vez.