A presidente Dilma Rousseff aproveitou ontem a reunião ; esvaziada ; do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) para cobrar dos empresários a participação no Programa Ciência sem Fronteiras. Como destacou o Correio no último sábado, o programa vai disponibilizar 100 mil bolsas de estudos no exterior, incluindo as 50 maiores universidades do mundo, para estudantes que se destacarem nas ciências exatas. Desse total, 75 mil serão custeadas pelo governo federal e os demais 25 mil deverão ser financiadas pelo setor produtivo. ;É um desafio para o setor privado;, convocou a presidente, lembrando que o programa custará R$ 3,1 bilhões aos cofres públicos.
O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, também destacou o descompasso de investimentos. ;No mundo, 2/3 das patentes de produtos são feitas por empresas. No Brasil, 2/3 dos produtos patenteados são feitos por pesquisadores que trabalham em universidades e instituições públicas;, comparou Mercadante.
O setor produtivo reclama que, até o momento, o formato do programa mantém um viés mais acadêmico do que produtivo. O grande temor de alguns empresários é que se faça um investimento significativo em um bolsista e, ao término do mestrado ou do doutorado, o estudante resolva permanecer no exterior, sem transformar o conhecimento em potencial de desenvolvimento para o país.
Dilma demonstrou preocupação com a carência de engenheiros formados no Brasil. Em um país que se prepara para receber grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e que lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007, a falta de profissionais na área é gritante. ;Por qualquer critério que se olhe, nós formamos mais pessoas para humanidades do que para as ciências exatas, principalmente a engenharia;, ressaltou a presidente.
Para Dilma, constatar isso não significa qualquer demérito em formandos em humanas, até porque, reconhece, muitos, como ela (Dilma é formada em economia), vieram desse setor do conhecimento. A mudança de visão faria parte de uma questão estratégica. ;O Brasil tem de se reequilibrar, ele tem de voltar a olhar para as ciências exatas e formar as pessoas nessa área para poder criar;, justificou.
O empresário Jorge Gerdau, responsável pelo Comitê de Gestão e Competitividade do governo federal, elogiou a iniciativa. Destacou que já era tempo do país começar a se preocupar em investir na área de exatas e brincou quanto à relação com os profissionais da área de humanas. ;Um bom engenheiro barateia uma obra. Um bom advogado encarece;, disse ele.
Foco em inovação
A presidente ressaltou ainda que não basta apenas formar mais engenheiros, mas é fundamental estimulá-los a trabalhar no setor. Como ela bem lembrou, nos anos de 1990, por falta de grandes projetos de infraestrutura no país, os alunos de engenharia saíam dos bancos das faculdades para nichos menos tradicionais da profissão. ;Hoje, nós não só precisamos dos engenheiros nas tesourarias dos grandes bancos e das grandes empresas, mas precisamos dos engenheiros para fazer projetos, para fazer a infraestrutura do país. Precisamos, sobretudo, em área de pesquisa, para que seja possível uma inovação de forma generalizada no Brasil;, defendeu.
O Ciência sem Fronteiras vai distribuir bolsas em 268 universidades no exterior ; incluindo as 50 maiores ; com base exclusivamente no mérito. Os alunos terão de ter nota acima de 600 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Serão escolhidos estudantes que se destacarem nas Olimpíadas de Conhecimento ; Matemática, Física, Química ; e alunos que ingressaram no ensino superior pelo ProUni. Além disso, o governo pretende eleger grandes especialistas e cientistas internacionais para ministrarem cursos no país.