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Bombeiros do RJ desembarcaram em Brasília para pressionar parlamentares

Foram 24 horas de viagem, percorridas entre a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e a capital do país. Cerca de 400 bombeiros fluminenses desembarcaram em Brasília, na noite de terça-feira, com uma missão: pressionar a aprovação, pelo Congresso Nacional, da anistia criminal àqueles processados pela invasão do Quartel-Central da corporação ocorrida no último dia 3. A reivindicação começou ontem, em uma sessão solene da Câmara Legislativa que homenageava os bombeiros do DF, passou pela Câmara dos Deputados, onde tramitam três projetos de lei sobre o assunto, e terminou, à noite, em frente ao Palácio do Planalto.

A manifestação ocorreu um dia depois de a Alerj ter aprovado o projeto que concedeu anistia administrativa aos 439 bombeiros e dois policiais militares presos pela ocupação. Em Brasília, no entanto, os bombeiros não obtiveram o mesmo sucesso. Isso porque a sessão do plenário da Câmara foi encerrada sem que nenhum projeto fosse analisado.

Segundo o porta-voz da manifestação, o cabo Benevenuto Daciolo, a articulação com o governo federal é necessária pois, no Rio de Janeiro, as negociações são feitas com um governo ;autoritário;. ;Em plena democracia, bombeiros são tratados como bandidos no seu próprio quartel e não conseguem uma única audiência com o governo para falar sobre as nossas reivindicações;, critica.

Ontem, o governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou ser favorável à anistia aos bombeiros. ;Eu errei quando os chamei de vândalos. Eles erraram, se comportaram mal, mas é uma instituição muito querida da população;, disse o governador, que sancionou ontem os projetos de anistia, gratificações e antecipação de reajuste salarial para os policiais civis e militares, bombeiros militares e inspetores de segurança do estado.

Os bombeiros informaram que vieram para Brasília em sete ônibus alugados pela corporação, pelo valor de R$ 35 mil. Os recursos utilizados para o pagamento do transporte vieram, segundo eles, da contribuição mensal feita pela categoria e pela sociedade ; por meio de uma conta aberta depois da invasão do quartel. O Corpo de Bombeiros do DF reuniu cerca de R$ 10 mil e está colaborando com a estadia e alimentação dos fluminenses.

Justiça Militar
Mais de 2 mil funcionários do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro invadiram o Quartel-Central da corporação, na Praça da República, na noite do último dia 3. Eles reivindicavam aumento de salário e melhores condições de trabalho. Do total de invasores, 439 foram presos. No último dia 13, a juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, da Justiça Militar, recebeu denúncia oferecida pelo Ministério Público estadual contra eles. A ação penal militar previu crimes de motim, dano em material ou aparelhamento de guerra, dano em aparelhos e instalações de aviação e navais e em estabelecimentos militares.

Pedido de aumento

Além da aprovação da anistia criminal no Congresso, os bombeiros reivindicam o aumento do salário líquido de R$ 950 para R$ 2 mil, além de vale-transporte. Entre os manifestantes de ontem estavam o casal de bombeiros Cleiton Caliocane, 36 anos, e Monique Caliocane, 31. Cleiton é um dos 439 bombeiros presos no início deste mês. Grávida de oito meses, Monique não participou da invasão ao quartel em função de fortes dores nas costas. ;Quando ele estava preso, foi horrível. A gente não tinha informação nenhuma. Mas a manifestação foi importante. A gente tem que dizer que não dá para sustentar uma família com esse salário;, disse Monique.

Os bombeiros foram recebidos em audiência na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Segundo o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), autor de um dos projetos de anistia, a votação de um projeto que beneficiasse a categoria não foi possível por urgências políticas. ;Os deputados têm consenso em relação à anistia dos bombeiros, mas a votação não é garantida porque depende de questões de urgência da Casa.; A votação dessa e de outras propostas está inviabilizada pela urgência constitucional do projeto que cria o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), de autoria do Executivo. (LL)