Maria Pereira dos Santos, ao longo dos seus 110 anos, sempre demonstrou ser feliz, atenciosa. Ela não parece ter vivido as dificuldades que superou. E foram várias. Filha de pequenos agricultores, desde a adolescência teve que trabalhar para ajudar a família a retirar o sustento de pequenas lavouras de milho e feijão. Nunca pôs o pé numa sala de aula. ;Naquele tempo, não havia escola na roça. A gente só trabalhava.; Era plantio, capina, colheita e a produção de rapadura e farinha.
Maria é testemunha de um grande sofrimento imposto ao sertanejo do Norte de Minas. Ela recorda a angústia vivida em 1939, quando a região enfrentou uma de suas piores secas. ;Secou tudo. Não sobrou nada do que o povo plantou.; Sem trabalho e comida, seus pais foram obrigados a pegar os filhos e fugir em busca de ;salvação; numa região distante, onde ficaram durante um ano. ;Para chegar lá, a gente caminhou durante 20 dias;. Ela não se lembra direito para onde foram.
[SAIBAMAIS]Ela vive hoje numa casa de alvenaria, com luz elétrica e água encanada, construída com o dinheiro ;juntado; da aposentadoria rural (R$ 545 mensais) e com a ajuda dos filhos. Já morou em três casas em condições precárias. As duas primeiras tinham paredes de ;enchimento; e a terceira era feita de adobe.
Com pouco mais de 20 anos de casada, em 1956, Maria Pereira dos Santos sofreu um duro golpe. O marido, João Francisco Firmino, pai dos seus seis filhos, disse que tinha outra mulher e abandonou a família. Dois anos depois, ele viajou para São Paulo. Justificou que ;ia ganhar dinheiro;. Nunca mais apareceu e já se passaram 52 anos. O ex-marido de dona Maria estaria hoje com 105 anos. ;Acredito que não esteja vivo.;
Na década de 1960, um dos filhos de Maria, José Francisco dos Santos, resolveu seguir os passos do pai e se mudou para São Paulo. Voltou para ver a mãe pela última vez em 1968. Desde então, não deu mais notícias. Ela tem esperança de rever o filho, que hoje estaria com 78 anos. ;Se o Zé Francisco aparecer, estarei aqui para recebê-lo;.