Jornal Correio Braziliense

Brasil

Restos mortais das vítimas do voo 447 da Air France chegam à França

BAYONNE - Os corpos de vítimas do acidente com o voo Air France Rio-Paris há dois anos, resgatados nas últimas semanas ao longo da costa brasileira, chegaram de navio nesta quinta-feira (16/6) em Bayonne (sudoeste da França) antes do início de um longo processo de identificação na sexta-feira. Os corpos de 104 vítimas deste acidente que deixou 228 mortos de 32 nacionalidades no dia 1; de junho de 2009, assim como destroços do avião, chegaram a bordo do navio Ile-de-Sein ao porto de Bayonne.

A embarcação chegou pouco depois das 06h (01h de Brasília) e aportou uma hora depois, acompanhado por um navio da Marinha nacional e de um outro da Polícia Militar. Mas as operações de descarregamento dos quatro contêineres contendo os restos mortais das vítimas e partes do avião, foram depois prejudicadas por uma pane em uma grua.

[SAIBAMAIS]Depois de algumas horas de interrupção, as operações foram retomadas ao meio-dia, enquanto as forças de segurança mantiveram fechados os acessos ao porto para manter de discrição, como queriam as famílias das vítimas. A subprefeitura de Bayonne havia assegurado que a chegada dos corpos seria feita "com dignidade".

O "Ile-de-Sein", fretado pelo Escritório de Investigação e Análises francês (BEA), responsável pela investigação técnica do acidente do voo AF447, encerrou no dia 3 de junho as operações de resgate de corpos e destroços do Airbus A330 a 3.900 metros de profundidade no Atlântico. No total, com os 50 primeiros corpos resgatados imediatamente depois do acidente. Cerca de outros 70 ainda estão entre os destroços da aeronave no fundo do oceano.

Após uma breve cerimônia no porto, na presença de autoridades locais, um caminhão carregado com dois contêineres partiu para Paris, escoltado por oito motoristas e seis viaturas da polícia.


Identificação

A chegada dos corpos a Paris deverá ocorrer na sexta-feira de manhã. Os restos serão "acondicionados" em um local secreto antes de serem transportados ainda pela manhã para Instituto Médico Legal (IML) da capital francesa, onde serão realizados os trabalhos de identificação, segundo a Prefeitura da Polícia.

Essas operações mobilizarão "três médicos legistas, dois radiologistas e dois ortodontistas". O IML realizará "os exames técnicos, dentários e, em particular, efetuará exames de DNA". "A comissão de identificação validará (...) este trabalho de identificação para permitir que as famílias de recebam e enterrem seus mortos", acrescentou. "Será preciso estabelecer pelo menos uma semana, ou até duas, antes de apresentar elementos", estimou a Prefeitura da Polícia. "O objetivo é entregar o quanto antes e o mais rápido possível os corpos às famílias", acrescentou.

O chefe do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar Nacional, François Daoust, havia estimado no dia 13 de junho que este trabalho de identificação levaria "semanas, e até meses".

Polêmica

Um processo de identificação que divide as famílias. Já "indignadas" no final de maio com o desenrolar caótico da investigação técnica do BEA, elas estão divididas frente à decisão da justiça de resgatar seus entes para identificação. "A operação suscitou polêmica, já que alguns querem e outros não. Tínhamos pedido à juíza que indicasse em quais condições de dignidade o resgate dos corpos seria organizado", explicou o vice-presidente da Associação Ajuda Mútua e Solidariedade AF447, Robert Soulas.

Os pedaços do avião devem ser transferidos para Toulouse (sudoeste), para as dependências da Direção Geral de Armamento (DGA). Após a operação, o Ile-de-Sein depois irá para Santander, na Espanha, onde será submetido a uma revisão durante dois meses.

Graças às caixas-pretas resgatadas no início de maio, o BEA conseguiu estabelecer que a queda do avião durou 3 minutos, mas ainda não determinou as causas da tragédia. Um relatório da etapa é aguardado para o final de julho. No âmbito judiciário de caso, Airbus e Air France são acusadas de homicídio culposo.