Os milhares de soldados da borracha que deixaram o Nordeste em 1943 para trabalhar na Floresta Amazônica serão considerados Heróis da Pátria. A proposta ; a última relatada pela atual ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, antes de se licenciar do Legislativo ; foi aprovada ontem pelo Senado e segue à sanção presidencial. Os sertanejos entrarão no livro no qual estão outros nomes que fizeram a história do país, como Tiradentes e Dom Pedro I, por terem se embrenhado na floresta a fim de retirar látex para ajudar as tropas aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, cerca de 4 mil seringueiros remanescentes daquela época estão com mais de 80 anos e concentram-se no Acre e em Rondônia.
O projeto original, redigido na Câmara pela deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), foi aprovado ontem, por unanimidade, pela Comissão de Educação do Senado, mas será encaminhado para a sanção presidencial por ter caráter terminativo. A justificativa de Perpétua é que os nordestinos sofreram muito ao chegar à Amazônia, pois viviam em condições de semiescravidão. ;Sem dúvida, morreram mais soldados da borracha do que brasileiros na guerra;, estima a parlamentar, lembrando que 466 combatentes do país perderam a vida no conflito.
Adelmo Fernandes de Freitas, 81 anos, é um dos desbravadores que se embrenhou na mata. Aos 15 anos, saiu do Ceará para o Acre, acompanhando o pai. E, apesar do reconhecimento do Estado, espera uma compensação financeira do governo. No fim de maio, uma série do Correio revelou documentos comprovando que os nordestinos foram ludibriados durante o recrutamento dos sertanejos. ;Não tinha hora nem dia para a gente cortar seringa;, lembra Adelmo, que vive hoje de uma aposentadoria. O nome dele e dos outros soldados da borracha ; calcula-se que sejam em torno de 50 mil ; serão registrados no Livro de Aço, localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade, na Praça dos Três Poderes. Como não há registro de todos os nomes, a homenagem deve ser feita de maneira simbólica.
Em seu relatório, Gleisi Hoffmann comparou a atividade dos seringueiros à dos militares que lutaram na Segunda Guerra: ;Embora não tenham participado dos combates, os soldados da borracha estiveram sujeitos a condições de trabalho e de sobrevivência extremamente severas, contribuindo diretamente para o mesmo objetivo daqueles que uniram as forças para derrotar as potências do Eixo. Assim como os nossos pracinhas, os soldados da borracha foram deslocados para ambiente inóspito, portando equipamentos muito precários e sem o devido treinamento. Aliás, estima-se que a metade desse contingente pereceu na floresta;, acrescentou Gleisi.