As ruas e avenidas de Belo Horizonte já parecem apertadas para figuras cada vez mais presentes. Nos últimos cinco anos, a frota de motos teve um crescimento de 76,5% em Belo Horizonte. Atualmente, elas somam quase 170 mil unidades em circulação no congestionado trânsito da capital, segundo o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG). A multiplicação desses veículos ultrapassa a expansão da frota de carros de passeio, que no mesmo período aumentou 41% em BH. Em Minas, 89.120 motos foram emplacadas, apenas nos quatro primeiros meses do ano.
Com razões de sobra para justificar o crescimento do número de motos, assim como a preocupação com elas, Belo Horizonte tenta alertar, em campanha lançada nessa quarta-feira, para os riscos de abusos e infrações cometidas sobre duas rodas. Vítima de acidente recente na Avenida Antônio Carlos, na Região da Pampulha, o vigilante Roberto Carlos Mendes da Silva, de 42 anos, faz coro à tentativa de preservar vidas no trânsito. ;Passei três semanas internado, fiz várias cirurgias e estou há oito meses na fisioterapia. Amadureci e hoje tenho postura mais defensiva;, conta. Motociclistas como ele constituem a maior parcela de vítimas de acidentes de trânsito atendidas no Hospital João XXIII. O contingente é maior que o de vítimas de todos os outros tipos de veículos somadas.
Acostumado a dirigir motos há 23 anos, ele confessa que houve abusos e imprudência na batida. Mas garante que o comportamento perigoso não é regra geral em sua vida. ;Eu estava com muito sono e corria muito, a mais de 80 por hora. É claro que esses problemas tornaram meu acidente ainda mais grave e sobrevivi por milagre. Mas, normalmente, sou responsável e vivo tomando fechadas de outros motoristas;, reclama.
A queixa de Roberto é também o ponto alto do discurso do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas e Ciclistas de Minas Gerais. O presidente da entidade, Rogério Santos Lara, apoia a campanha da BHTrans para conscientizar a categoria e tentar reduzir acidentes, mas faz críticas à tendência de atribuir às motos a culpa pelos números preocupantes. ;A sociedade costuma nos apontar o dedo e dizer que a responsabilidade é toda dos motociclistas. Mas não somos os únicos responsáveis pelo trânsito e gostaria de ver campanhas também dirigidas aos motoristas, para que eles nos respeitassem mais;, afirma Rogério.
No mês que vem, o sindicato participa de audiência pública na Assembleia Legistativa para discutir os direitos e deveres dos motociclistas. ;O setor só cresceu nos últimos anos porque a sociedade quer um serviço de entrega rápida. Mas ninguém se preocupa se, por causa dessa cobrança de tempo, um pai de família morre no trânsito. Loucuras que uma pessoa não faz com um carro são exigidas de um motociclista com prazos de entrega apertados;, argumenta Rogério.