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Franceses decidem restringir resgate de corpos do AF 447

Governo francês recua e anuncia que vai levar em conta o estado de deterioração dos cadáveres para definir quais serão retirados do fundo do Oceano Atlântico. A nova decisão não agrada os familiares das vítimas


O resgate dos corpos das vítimas do avião da Air France acidentado em 31 de maio de 2009 ganhou mais um capítulo polêmico. Após idas e vindas de informações, as autoridades francesas decidiram não retirar do fundo do oceano todos os restos mortais localizados na última operação de busca, em abril deste ano. Em carta enviada às famílias dos mortos na tragédia, os juízes Sykvie Zimmerman e Yannn Daurelle, do Ministério Público de Paris, informaram que aqueles em estado de decomposição mais avançado não serão levados à superfície. ;Para preservar a dignidade e o respeito das infelizes vítimas e dos que os choram, nós tomamos a decisão de não resgatar os restos alterados demais;, justifica o texto.

A determinação desmente a informação divulgada na semana passada pela Polícia Militar do país (Gendarmerie Nationale), que havia confirmado, em nota oficial, o resgate de todos os corpos encontrados. O documento reavalia ainda algumas declarações sobre o estado das vítimas. ;Os restos mortais que se localizam no fundo (do oceano) estão inevitavelmente em um estado degradado em razão do choque particularmente violento, do tempo passado e do ambiente;, informa.

Na última semana, as equipes de resgate a bordo do navio francês Ile de Sein recuperaram dois corpos do fundo do mar ; o primeiro estava preso a um assento da aeronave e o outro, solto. Amostras de DNA foram coletadas dos restos mortais e estão a caminho de Caiena, capital da Guiana Francesa, para serem enviadas a Paris, assim como as caixas-pretas encontradas. Os tecidos coletados e os equipamentos que gravaram dados do voo e as conversas entre os pilotos na cabine devem chegar a Paris amanhã ;a fim de verificar se a identificação é ou não realizável;, segundo a carta dos juízes.

Falta convencer
Apesar das conhecidas dificuldades no resgate dos corpos, a justificativa usada pela Justiça francesa para limitar o içamento não convenceu os parentes das vítimas. Segundo o diretor executivo da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Maarten Van Sluys, os critérios utilizados pelas equipes de resgate para eleger aqueles que serão levado à superfície não ficaram claros. ;Do ponto de vista de dignidade e de respeito às famílias, não parece ser procedente essa argumentação. Para alguém que não tem nada, receber algo que seja daquela pessoa é sempre melhor;, destacou.

Os restos mortais da irmã de Maarten, morta no acidente, foram recuperados na primeira fase de busca, quando as equipes conseguiram localizar 50 corpos boiando no oceano. ;Que diferença faz se o corpo está inteiro? Recebi o da minha irmã e nem abrimos o caixão. O importante é poder fazer um enterro. Se fosse por essa ótica, nem os primeiros poderiam ter sido entregues às famílias;, argumentou.

O médico-legista Helsio Luiz Miziara discorda da decisão de retirar os corpos do fundo do oceano, mas destaca a possibilidade de identificá-los por meio de exame de DNA usando a estrutura óssea ou qualquer outro tecido humano, como o cabelo, que esteja preservado. ;Os corpos devem estar decompostos. É falsa essa ideia de que a temperatura e a pressão os preservaram, mas o arcabouço deve estar mantido;, diz o especialista. Para o professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), é preciso que a França esclareça os critério que utilizará na escolha dos corpos a serem resgatados. ;Mas acredito que, em qualquer dos casos, existe a possibilidade de identificar (a vítima) pelo que sobrou;, ressaltou. Novas tentativas de resgatar os corpos serão feitas a partir do próximo dia 20, quando a tripulação do navio Ile de Sein ganhará reforço.