PARIS - Uma das caixas-pretas do Airbus A330 da Air France, que caiu no mar ao longo da costa brasileira no dia 1; de junho de 2009, foi recuperada neste domingo, anunciou o Bureau de Investigações e Análises (BEA), encarregado da investigação técnica da catástrofe que deixou 228 mortos. "A equipe de investigação localizou e identificou o módulo de memória do gravador de parâmetros - Flight Data Recorder (FDR) - às 10h00 GMT (07h00 de Brasília) deste (domingo). Ele foi recuperado (...) às 16h40 GMT (13h40 de Brasília)", segundo um comunicado do BEA.
"A caixa-preta parece estar em bom estado físico. Nossos especialistas nos dizem que podemos conseguir ler esses dados", explicou Jean-Paul Troadec, diretor do BEA.
Até o momento, os motivos da tragédia não foram explicados. Os investigadores determinaram que a falha das sondas de velocidade da aeronave, chamadas Pitot, da fabricante Thales, foi uma das causas, mas consideraram que essa avaria não basta para explicar o acidente. No entanto, Troadec mostrou-se prudente, ressaltando que, no momento, é difícil saber se houve corrosão. "Se esses dados puderem ser analisados, isso vai permitir que a investigação avance porque o FDR registra a altitude, a velocidade, as diferentes posições do leme", explicou Troadec.
O módulo deve ser levado ao BEA para análises. "Deverá estar em nossos escritórios dentro de 8 a 10 dias, tempo que um navio da Marinha Nacional levará para buscá-lo e levá-lo a nós", disse.
O objetivo agora é recuperar a segunda caixa-preta do Airbus A330, que registra as conversas dentro da cabine, para que o navio da Marinha leve os dois gravadores juntos. "Se conseguirmos ler os primeiros dados, será um grande passo, mas sem a segunda caixa-preta, faltarão dados essenciais", advertiu Troadec.
[SAIBAMAIS]A descoberta da primeira caixa-preta aumenta as esperanças das famílias das vítimas para que a tragédia seja esclarecida. "Significa muito porque toda a polêmica sobre a responsabilidade da tragédia, a incerteza sobre o que ocorreu, pode ser esclarecida", disse à AFP no Rio de Janeiro o presidente da associação brasileira de famílias das vítimas, Nelson Marinho.
Nelson considerou, no entanto, que "as caixas não deveriam ir para a França, porque a França é dona da Airbus e da Air France". "Deveriam ir para um país neutro, como os Estados Unidos", advertiu.
O diretor geral da Air France, Pierre-Henri Gourgeon, classificou a descoberta de "grande avanço" para a investigação. "Esperamos ansiosamente que o BEA (...) possa dar respostas às perguntas que vêm sendo feitas há quase dois anos pelas famílias das vítimas. Nossa companhia e toda a comunidade aérea mundial querem saber sobre os fatos que levaram a este trágico acidente", afirmou.
Nelson Marinho lembrou que as famílias estão ansiosas para saber se os corpos serão resgatados do fundo do oceano, explicando que "o povo brasileiro só considera que a vida chegou ao fim com o enterro do corpo".
Os investigadores haviam anunciado na quarta-feira a descoberta do chassi da caixa-preta, mas sem o módulo de memória contendo os valiosos dados do voo que poderão permitir que a tragédia seja explicada. Certamente, o módulo se soltou do chassi no momento do impacto com a água.
O BEA havia anunciado no início de abril a localização dos destroços da aeronave antes de lançar na semana passada a fase de recuperação.