Temerosos e assustados com o massacre protagonizado por Wellington Menezes de Oliveira no último dia 7, os irmãos decidiram não atender os últimos desejos do atirador que, após matar 12 crianças na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, atirou na própria cabeça. Em carta encontrada pela polícia, Wellington manifestou o desejo de ser enterrado em um túmulo ao lado de sua mãe, Dicéia Menezes de Oliveira, no cemitério Murundu.
O prazo para reclamar o corpo do assassino, no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, termina hoje e nenhum parente pretende aparecer por lá. ;Não vamos reconhecer o corpo para daqui a duas semanas ser um de nós. Ele matou 12 crianças e tem muita gente, pai, tio, avô, amigo, envolvida nisso. Corremos perigo;, destacou André*. Dessa forma, o sepultamento deve ocorrer no Cemitério de Santa Cruz, como indigente, em um caixão e cova individuais, sem identificação. A Polícia Civil do Rio ainda não sabe precisar a data do enterro, que deve ocorrer na segunda-feira, por conta do feriado da Semana Santa.
Ainda abalado com a tragédia provocada pelo irmão, André* ressaltou o medo vivenciado pela família desde então. Como contou, as duas irmãs que residem na capital carioca têm sido vítima de represálias. ;Minha irmã, que morava nos fundos da casa da minha mãe, teve que mudar de lá porque o local foi apedrejado. Estamos sendo vítimas de um irresponsável que não pensou na gente antes de fazer o que fez;, desabafou.
O irmão fala com tristeza do ocorrido e lamenta a morte das 12 crianças. ;A gente não sabia. Ele fez tudo sozinho. Eu, como pai, avô, não ia deixá-lo fazer algo desse tipo nunca.; Ele admite que o irmão se mantinha afastado e distante dos colegas na época de colégio, mas desconhece que Wellington tivesse qualquer problema psiquiátrico.
André acrescentou ainda o sofrimento de não poder enterrar o irmão. ;Se ele tivesse morrido por qualquer outro problema, eu estaria lá, no Rio, tomando as providências necessárias. Mas, assim, não sei como vai ser. O medo consome a gente. Quem não teria?; Segundo ele, a família não sabe como retomar a vida sem ser confundida com Wellington. ;Não tenho como perdoar, isso está nas mãos de Deus, eu não posso julgar;, finalizou o irmão.
Massacre
Wellington, ex-aluno da escola Tasso da Silveira, entrou no colégio por volta das 8h daquela quinta-feira, alegando que buscaria um histórico escolar solicitado duas semanas antes. Minutos depois, 12 crianças com idades entre 12 e 15 anos estavam mortas e outras 11 feridas. Para isso, utilizou dois revólveres. Um deles, descobriu-se, dias depois, que tinha sido roubado da casa de uma pessoa havia cerca de 11 anos.
Na casa do atirador, a polícia encontrou cartas e arquivos de computador em que há sinais de que o ataque estava sendo premeditado há alguns meses. Em dois vídeos, Wellington fala de maneira confusa sobre os supostos motivos do crime e culpa pessoas, que chama de ;covardes;, pelo ato que cometeu.
O ataque em Realengo reacendeu a discussão sobre o uso de armas de fogo por civis. Na última semana, o Ministério da Justiça anunciou a antecipação da Campanha Nacional de Desarmamento, que será lançada em 6 de maio. O governo vai destinar R$ 10 milhões do orçamento em indenizações ; pagas para cada arma entregue nos postos de coleta. Além disso, o ministério pretende aumentar os locais de entrega de armas. Polícias Federal, Civil e Militar, unidades das Forças Armadas e entidades como igrejas poderão receber os artefatos.
* Nome fictício a pedido do entrevistado
Se ele tivesse morrido por qualquer outro problema, eu estaria lá, no Rio, tomando as providências necessárias. Mas, assim, não sei como vai ser. O medo consome a gente. Quem não teria?;
André*, irmão de Wellington