A educação tem encontrado alguns obstáculos no município de São Sebastião de Lagoa de Roça, que tem uma população de 7 mil habitantes e está localizada no Brejo paraibano. Existentes há mais de 40 anos na zona rural do município, duas escolas municipais que serviam para educar dezenas de crianças, hoje estão completamente abandonadas e o descaso tem gerado transtornos para os moradores das proximidades. Os prédios estão sendo usados como "motéis" e para consumo de drogas.
Ao chegar na localidade é fácil encontrar moradores que relatam que os espaços são usados, quase que diariamente, por jovens que praticam vários tipos de delitos e aproveitam da "tranquilidade" da área para promoverem até orgias sexuais. É o que confirma o agricultor Luciano Rodrigues, de 36 anos, que mora a menos de 100 metros da Escola Municipal Francisco Carlos Marinho, desativada há mais de oito anos. "Aqui eles vêm para fazer o que não presta. Ontem mesmo, estava em casa com minha família, quando vi só as motos chegando. Foram três casais. Aqui, eles usam drogas e fazem sexo tranquilamente, sem serem incomodados. Todo mundo sabe disso e nós moradores, não podemos fazer absolutamente dada. Eu mesmo fico em casa, só olhando da janela. Não vou arriscar minha vida, nem muito menos a vida dos meus familiares", desabafou.
Ainda segundo o agricultor, que nas horas vagas, também trabalha como mototaxista, por causa da situação de insegurança, gerada a partir do abandono do prédio, os moradores do sítio Caracol já evitam sair de suas casas no horário noturno, com medo de se transformarem em vítimas da violência. "Quando a noite chega, todo mundo tem medo de sair de casa. Eu mesmo, retorno mais cedo do trabalho com medo de alguém me assaltar. Eles ficam sempre aqui nas proximidades da escola. Em outras vezes, os bandidos se escondem no local e quando as pessoas passam, eles agem", afirmou Luciano.
Não muito distante dali, outra unidade de ensino está na mesma situação. Fechada há mais de dez anos, a Escola Municipal José Antônio Trajano, que antes servia a mais de 100 crianças, hoje dá abrigo a animais e tem servido também como refúgio para criminosos.
Tristeza
No caso da última unidade visitada, os moradores afirmam que com uma reforma, o prédio poderia ser usado como sede social ou servir como área de capacitação para os jovens que moram no sítio Caracol. "Eu fico muito triste em saber que um dia estudei aqui e hoje, parte de minha história está sendo destruída pelo tempo e pelo descaso. As autoridades deveriam utilizar este espaço como área de capacitação profissional ou até doar esta área para uma associação de moradores", frisou o agricultor Antônio José Neto, de 30 anos.
A aposentada Maria Ana Trajano, de 70 anos, foi esposa do agricultor que foi homenageado com o nome da escola. Revoltada, ela afirma que a situação do grupo só não é pior, por que os próprios moradores cuidam em limpar a área e até as salas. "Parte da parede de trás da escola já desabou. Agente tem medo por que nessa região já acontecem muitos assaltos e os bandidos usam esta área como rota de fuga. Um prédio abandonado como este é um convite para a criminalidade", declarou.
Seis unidades abandonadas no município
Falta de alunos. Esta foi a justificativa dada pelo secretário de Educação e Cultura do município de São Sebastião de Lagoa de Roça para justificar o abandono das unidades de ensino na zona rural. Doriedson de Farias Coura, que assumiu a pasta há menos de dez dias, comentou que o problema é bastante antigo e que tem se esforçado para tentar resolvê-lo.
De acordo com ele, atualmente seis unidades de ensino do município estão nesta situação. "Temos seis escolas enfrentando esta realidade. Em duas delas, a prefeitura fez um acordo e os prédios estão sendo usados por associações rurais, formadas pelos próprios moradores. Nas demais, como estas do sítio Caracol, estamos pensando verdadeiramente em demolir os prédios. As estruturas estão velhas e somente para reformar, seriam necessários muitos recursos que o município não têm disponível", comentou.
Ainda segundo o chefe da pasta, atualmente o município de Lagoa de Roça possui 19 unidades ativas, atendendo mais de 2 mil alunos do ensino infantil ao fundamental. "Temos muitos desafios a vencer, e, claro, muitas coisas pra comemorar também. No caso das escolas abandonadas, é um compromisso nosso em resolver" confirmou.
Doriedson de Farias Coura contou também que já está acionando a assessoria jurídica da prefeitura, a fim de que possam ser agilizados os processos e as liberações para a realização da demolição dos prédios sem utilização pelo município.