São Paulo - O Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso Nacional e cuja comissão especial será instalada amanhã (13), é peça chave para o Brasil melhorar o nível de aprendizagem no ensino médio. É por meio dele que o país poderá corrigir as falhas no sistema educacional como o despreparo dos professores para lidar com alunos do ;século 21; e a ausência de regras claras sobre a universalização do ensino.
Essa análise foi feita hoje (12) pela diretora executiva do Movimento Educação Para Todos, Priscila Cruz. Ela alerta que a apreciação pelos parlamentares deve ser acompanhada pela sociedade porque se trata de um plano que ;está acima de governo e de interesses imediatos;. Para Priscila Cruz, no cenário atual ;quem paga a conta é o aluno pela ineficiência, por não aprender ou por sair da escola antes da conclusão;.
Ela defende maior investimento na carreira do magistério para despertar o interesse daqueles que tenham sido os melhores alunos do ensino médio para essa profissão. ;A gente tem no país apenas 11% dos jovens que concluem o ensino médio com o aprendizado mínimo de matemática. Então a gente tem pela frente uma batalha imensa para tentar garantir o direito de todos os alunos para este conhecimento;. Na avaliação dela, é necessário ter professores mais engajados com essa missão.
Priscila Cruz reconhece, no entanto, que a tarefa de ensinar se tornou um grande desafio porque hoje as vagas nas escolas estão abertas para todos. E a maioria que não consegue alcançar o mínimo de aprendizagem muitas vezes são alunos de famílias pobres que chegam às salas de aula com problemas de saúde, de transportes e outras dificuldades advindas da sua condição social.
Essas dificuldades, conforme defende Priscila Cruz, devem ser compensadas com um bom programa de ensino que deve ter a figura do professor no centro de tudo. ;A gente tem que ter na escola uma política compensatória para que essas crianças que estão nas camadas mais pobres, mais vulneráveis, excluídas, possam se igualar em oportunidades porque não é justo ter uma desigualdade tão grande;.
Ela citou o resultado de um levantamento do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no qual foi constatado que os países melhores colocados na qualidade do ensino, entre eles o Canadá, a Coreia do Sul, a Finlândia e Xangai, conseguiram atrair 30% dos alunos do ensino médio para a carreira do magistério. ;A gente não tem isso aqui, a carreira não é suficientemente atraente;.
Além disso, afirmou que o Brasil não tem uma preparação adequada nas faculdades de pedagogia e de licenciatura. ;A formação é muito voltada para a teoria e é pouco prática no sentido da didática para atrair os alunos;. Ela defende ainda a adoção de regime de atuação para o ensino federal, estadual e municipal e a implantação de uma Lei de Responsabilidade Educacional.
Para o professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Nilson José Machado, a falta de estudantes interessados na carreira de professor não é causada majoritariamente pelas condições salariais dos educadores. Mas pelas pelas péssimas condições de trabalho e pela desvalorização simbólica da carreira.
;Há uma condição de trabalho inteiramente deteriorada na educação básica. Isso passa pelo salário, mas, absolutamente, não se resume a ele. Um professor com 40 horas semanais tem de estar 32 duas horas na sala de aula por semana. Isso, independentemente do salário, é uma péssima condição de trabalho;.
De acordo com Machado, existe um bom número de professores com boa formação, mas que são atraídos para outras profissões em razão das condições precárias do ensino. ;Os professores bem preparados existem aos montes, mas eles foram paulatinamente expulsos da sala de aula buscando melhores condições de trabalho;, disse. ;A política que existe de preparar melhor os professores que estão na sala de aula é um furo n;água, porque quanto mais preparado o professor fica, mais ele vai procurar outra coisa para fazer;, completou.
Ele ressaltou ainda que a profissão de professor precisaria, como ocorre na maioria das ocupações com responsabilidade social, ter uma instituição de regule a profissão. ;Tem de haver instituições como a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] para os docentes. Já faz muito tempo que a gente não tem esse tipo de regulação;.