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Salas onde ocorreram assassinatos vão virar espaços de estudo, no Rio

Pais de alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, onde 12 meninos foram mortos por Wellington Menezes de Oliveira, voltaram ontem ao local para recolher o material didático deixado pelos filhos no dia do massacre. As salas de aula onde o assassino disparou contra os estudantes passaram por uma limpeza depois que a polícia finalizou os trabalhos de perícia. Elas serão transformadas em biblioteca e espaço multifuncional, segundo o diretor do colégio. Enquanto equipes da Prefeitura do Rio e funcionários do próprio colégio cuidavam da arrumação da instituição, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em Brasília, anunciou a provável antecipação da campanha do desarmamento para 6 de maio ; um mês depois da chacina. Antes, o evento estava previsto para ocorrer em julho.

Nilsa da Cruz, avó de Karine Lorraine Chagas, estudante de 14 anos morta pelo atirador, ficou muito emocionada ao sair da escola com a mochila que a neta usava. Ela decidiu doar os livros didáticos da garota ao colégio. ;A minha neta não vai mais precisar deles, mas ainda tem muita gente que precisa;, disse Nilsa. Pai de Roger Cunha, um dos sobreviventes da chacina, Renato Cunha desistiu de levar a bolsa do garoto para casa devido à quantidade de sangue. Nilson Rocha, pai de Renata Lima, que teve ferimentos, contou como a filha está assustada. ;Ela tem dificuldades para dormir e comer;, relatou Nilson. Pelo menos dois pais pediram a transferência dos filhos para outra escola.

Mais quatro jovens internados por conta do ataque receberam alta ontem, de acordo com a Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Rio. Entre os cinco meninos e uma menina ainda no hospital, dois estão em estado grave. As vítimas mais debilitadas são um adolescente de 13 anos baleado no olho direito ; ele passou por uma neurocirurgia e, ainda sedado, respira com a ajuda de aparelhos ; e um jovem de 14 anos que foi atingido no abdômen e na mão, e segue na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Albert Schweitzer.

Reação e promoção
Depois de um domingo de depredação, pichação e até ameaça de fogo, a casa onde Wellington morou foi pintada de branco por voluntários que estudaram na Escola Municipal Tasso da Silveira. Numa espécie de protesto pacífico, os manifestantes se juntaram para comprar a tinta usada na parede. Além disso, colaram cartazes afirmando que a culpa não é dos parentes do atirador e que o bairro de Realengo é pacífico. ;Organizei esse ato porque meus sobrinhos, que estavam na escola no dia do tiroteio, passaram em frente à escola e ficaram muito assustados com as pichações;, conta Marcos Gerbatin, referindo-se às inscrições de ;assassino; e ;covarde; feitas por populares nas paredes do imóvel.

[SAIBAMAIS]O governador do Rio, Sérgio Cabral, decidiu promover os três policiais militares que socorreram as vítimas e ajudaram a conter o assassino. Amanhã, haverá a solenidade elevando o terceiro-sargento Márcio Alexandre Alves, que atirou na perna de Wellington Menezes, à graduação de segundo-sargento. E os dois cabos que participaram da ação ; Denílson Francisco de Paula e Ednei Feliciano da Silva ; serão promovidos a terceiro-sargento. Alves retornou à escola ontem a convite do presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara Federal, o deputado Mendonça Prado (DEM-SE). Visivelmente emocionado, ele disse que não se esquecerá do ocorrido. ;Vai tudo estar sempre na minha memória.;

O corpo de Wellington continuava no Instituto de Medicina Legal até o fechamento desta edição. Os parentes, ao pedirem anonimato, disseram não saber o que fazer. Eles temem ser identificados pela população e até sofrer retaliações. Caso o cadáver não seja reclamado em 15 dias, contados da data de chegada à Polícia Civil, Wellington será enterrado como indigente. Quanto às investigações, os agentes tentam vasculhar os contatos do atirador na internet. A ideia é traçar o perfil psicológico do assassino em no máximo 30 dias, prazo para o inquérito ser finalizado, a fim de chegar às reais motivações do assassino, bem como à forma como ele premeditou a chacina.

E-mails reveladores
A polícia recolheu anotações na casa do atirador relatando humilhações sofridas na escola durante a adolescência. Outra fonte de dados está no rastreamento do correio eletrônico de Wellington, cuja quebra de sigilo foi obtida pela polícia. Em análises preliminares, foi possível verificar que o assassino tentou se matricular em um curso de tiro e também o seu interesse por jogos eletrônicos violentos. Apesar de Wellington ter queimado o próprio computador para eliminar pistas, especialistas afirmam que é possível recuperar dados do HD.