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Brasil

População de Minas envelhece e cidades incham

Com base no universo do Censo 2010, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Centro de Estudos de Políticas Públicas da Fundação João Pinheiro divulgou quinta-feira análise sobre o recorte demográfico do estado, que surpreendeu as expectativas de projeção populacional: na última década, houve queda significativa no crescimento anual da população mineira. Segundo o pesquisador Olinto Nogueira, responsável pelo estudo, a população está envelhecendo mais, enquanto a taxa de fecundidade está reduzida. Outro dado importante mostra que apenas 15% da população no estado é considerada rural.

A análise mostra que a taxa de crescimento demográfico anual foi de 0,91%, entre 2000 e 2010. Nos anos anteriores, esse percentual chegava a 1,5%. A mudança se traduziu ainda em queda da participação da população mineira, de 11% para 10%, no total do país. De acordo com o pesquisador, a retração do crescimento populacional está diretamente ligada à queda na taxa de fecundidade.

;A participação da população de até 4 anos está diminuindo. Isso acontece em decorrência, por exemplo, da urbanização e da inserção da mulher no mercado de trabalho. A estimativa é de que a taxa de fecundidade seja de 1,80 filho por mulher em idade reprodutiva, que vai de 15 a 49 anos, quando a taxa de reposição necessária para manter a quantidade da população seria de 2,1 filhos por mulher;, explicou o pesquisador.

No último censo, a participação da faixa etária de até 4 anos no total da população caiu de 9% para 6,5%. Em contrapartida, a população com mais de 65 anos representa 8,2% (no censo anterior, a taxa correspondia a 6,2%). ;Para se ter uma ideia, em 1970, a taxa era de cinco filhos por mulher em idade reprodutiva. A redução nessa taxa é um fenômeno no país todo e apenas o interior da região Norte do Brasil apresenta um número mais alto, em torno de quatro filhos. É possível especular que em Belo Horizonte, por exemplo, esse número seria ainda menor do que em todo o estado de Minas;, afirmou o pesquisador, que ainda espera a amostragem do Censo 2010 para confirmar a suposição.

Segundo a análise da Fundação João Pinheiro, somente quatro estados tiveram taxa de crescimento menor do que a de Minas Gerais: Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Paraíba. Para Olinto Nogueira, houve praticamente uma inversão na população, no que diz respeito à análise da vida no campo. Segundo ele, a maioria dos municípios (80%) perdeu população rural. Cinco deles apresentam taxa de crescimento negativa: Belo Horizonte, Confins e Vespasiano, na Região Metropolitana, São Lourenço, no Sul de Minas, e Santa Cruz de Minas, na Região Central do estado. A análise dos dados do Censo 2010 mostra que 85,3% da população é urbana.

;Isso indica que cerca de 736 mil pessoas deixaram o setor rural no estado, na última década, montante maior que a população total em qualquer outro município, sem contar a capital. Minas sempre foi um estado que mais expulsava população do que recebia, mas o que chama a atenção é que essa não é mais a razão para a redução da população;, disse ele.

A pesquisa também mostra que o município de Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas, foi o que mais cresceu. A taxa chegou a 7% ao ano e a população quase dobrou em 10 anos, passando de 37,5 mil para 73,7 mil em 2010 ; um aumento de 96,5%. Em termos urbanos, a cidade conseguiu a 9; maior taxa do estado. Na população rural, foi a 2; maior taxa de Minas.

O professor do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José Irineu Rangel Rigotti, destaca que os dados indicam um quadro positivo e ao mesmo tempo preocupante para o país. Segundo ele, os números colocam o Brasil diante de uma janela de oportunidades, que pode ser aproveitada ou não.

;Um aspecto positivo é que o governo vai precisar gastar menos recursos para atender a população em idade escolar e poderia aproveitar o momento para investir pesadamente na qualidade da educação, já que temos um déficit muito grande. Por outro lado, a população idosa aumenta velozmente, fazendo com que haja preocupação com as questões de previdência e atendimento em saúde;, explicou Rigotti.

O demógrafo faz um alerta: ;Por enquanto, proporcionalmente, a população em idade ativa ainda sustenta os gastos com a previdência dos aposentados. Mas há um hiato nessa questão, em virtude do crescimento da população idosa e da redução da taxa de fecundidade. O governo precisará estar atento ao futuro;, advertiu ele.