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Pousada de luxo em BH onde morreu casal admite risco em lareira

Manual de instruções da pousada Estalagem do Mirante, em Brumadinho, na Grande BH, onde um casal de universitários foi achado morto na quinta-feira, reconhece os riscos do uso indevido da lareira, mas não indica aos hóspedes os perigos de acendê-la com o ambiente completamente fechado. Laudo preliminar da Polícia Civil, que revela alta concentração de monóxido de carbono no sangue de Gustavo Lage Caldeira Ribeiro, de 23 anos, e Alessandra Paolinelli de Barros, de 22, é peça fundamental na montagem do enigmático quebra-cabeça que pode esclarecer as mortes. Mas a análise que praticamente descarta as hipóteses de homicídio e suicídio faz surgir nova interrogação: se a intoxicação é mesmo a causa da tragédia, ela foi resultado de inexperiência dos jovens ou de omissão do estabelecimento quanto à segurança?

Laudo divulgado pela Polícia Civil mostra que a exposição dos jovens a um ambiente saturado de monóxido de carbono, por duas horas, pode ter sido fatal, hipótese que o Estado de Minas antecipou ao ouvir especialistas, no sábado. No caso dos universitários, um agravante pode ter sido decisivo para a morte silenciosa e indolor: a vedação de portas e janelas.

A hipótese desenhada por investigadores é de que os dois teriam fechado o cômodo para impedir a entrada da água de chuva e dos fortes ventos, que inclusive fazem a fama da região entre praticantes de voo livre. Uma corrente de ar também pode ter dificultado o funcionamento da chaminé. Sem instruções claras quantos aos riscos, os dois podem ter desmaiado ao inalar o gás tóxico e, em seguida, falecido. ;Trinta minutos de exposição a monóxido de carbono são suficientes para uma pessoa ficar em estado de letargia, sem condições de reagir;, adverte o patologista e ex-diretor do Departamento de Medicina Legal da Unicamp Fortunato Badan Palhares.

Na segunda-feira, o Estado de Minas teve permissão da direção da pousada para entrar em um chalé idêntico ao alugado pelos namorados na semana passada. O espaço, com 60 metros quadrados, é composto por três ambientes ; antessala, quarto e banheiro ; e tem visão privilegiada da região montanhosa.

A direção apresentou um impresso que orienta como se dá o acendimento e a manutenção da lareira ; que ficaria, juntamente com o cardápio, à disposição dos hóspedes. ;As lenhas precisam ser constantemente movimentadas com o garfo;, diz o folheto, que termina com o estabelecimento se eximindo de culpa por eventuais problemas. ;Não nos responsabilizamos pelo uso indevido da lareira;, conclui o texto entregue ao Estado de Minas, que evidencia o perigo, mas não faz referência a eventuais riscos de se usar o equipamento em ambiente fechado.