O governo brasileiro festejou há poucos dias o salto de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010. Esse bom desempenho econômico elevou o país ao sétimo lugar entre as maiores economias do mundo. Entretanto, ainda permanece no triste ranking das 10 nações com o pior sistema de saneamento do planeta, algo que não condiz com a realidade de um Estado que pretende se igualar às maiores potências mundiais.
Apesar de o Brasil ter 12% de toda a água doce da Terra, o país ainda precisa investir R$ 70 bilhões para garantir o abastecimento do insumo até 2025. Desse valor, R$ 47,8 bilhões correspondem a recursos para o tratamento de esgoto e o restante, em infraestrutura ; sem incluir os gastos com a distribuição. Essas informações constam do Atlas Brasil, documento que será divulgado hoje, Dia Mundial da Água, pela Agência Nacional de Águas (ANA).
O Sudeste, por ser mais populoso, demanda maior volume de investimentos em infraestrutura. Na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF), são necessários R$ 861,8 milhões. ;Os investimentos são necessários para não comprometer o fornecimento de água, e o Atlas será uma ferramenta para a sociedade cobrar as autoridades;, comenta o superintendente adjunto de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes Soares.
Especialistas do setor, no entanto, falam em cifras bem maiores em saneamento para atender os 53% da população brasileira ainda sem esgoto tratado. Esse montante oscila entre R$ 120 bilhões e R$ 270 bilhões. ;No ritmo atual, o país levará 60 anos para zerar esse deficit;, aponta o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. ;O Brasil ainda está no nono lugar do ranking da vergonha, com 13 milhões de pessoas sem ter onde fazer suas necessidades;, alerta.
O coordenador do Projeto Água da WWF Brasil, Samuel Barreto, lembra que o ritmo dos investimentos do governo brasileiro está aquém do necessário para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e reduzir o índice de mortes de doenças provocadas por água contaminada. ;Cada dólar investido em saneamento significa uma economia quatro vezes maior em saúde;, destaca.
PAC desacelera
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está com o freio de mão puxado para os investimentos em saneamento. Dos R$ 40 bilhões previstos no PAC 1, menos da metade foi executada. Já o PAC 2, que prevê mais R$ 21,2 bilhões, sequer decolou.
No DF, há duas obras do PAC paradas, segundo dados do Trata Brasil: uma em Samambaia e outra nos condomínios Pôr do Sol e Sol Nascente, em Ceilândia. Nas chácaras em Sol Nascente, é comum ver, principalmente quando chove, buracos que se transformam em poças de água suja. A costureira Andréia de Sá é uma das vítimas das obras paradas. Moradora do setor há dois anos, ela passou a ter problemas de pele depois que se mudou. ;É muito comum aqui dar frieira e bicho-de-pé. Tem gente que anda com sacolas nos pés para se proteger.;
O diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), Cristiano Magalhães, nega a paralisação das obras. ;Não temos obras paradas, mas empreendimentos que não concluímos a licitação. Já fizemos um pregão para a compra de material e agora estamos finalizando as licitações;, explica.
Ranking da vergonha
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2008, 891 milhões de pessoas espalhadas em 10 países não possuem vasos sanitários em suas residências. O Brasil ocupa o nono lugar nessa lista:
País - Pessoas sem vaso sanitário em casa
1; Índia - 638 milhões
2; Indonésia - 58 milhões
3; China - 50 milhões
4; Etiópia - 49 milhões
5; Paquistão - 48 milhões
6; Nigéria - 33 milhões
7; Sudão - 17 milhões
8; Nepal - 15 milhões
9; Brasil - 13 milhões
10; Niger - 12 milhões
Fonte: Instituto Trata Brasil/OMS e Unicef
VEJA INFOGRÁFICO