Um mistério digno de romances policiais. Ela era uma linda jovem universitária, aspirando a carreira de medicina. Ele trabalhava como garçom e há pouco havia sido aprovado no vestibular para cursar engenharia de produção. Alessandra Paolinelli de Barros, de 22 anos, e Gustavo Laje Caldeira Ribeiro, de 23, completaram um ano de namoro na terça-feira e, dois dias depois, foram encontrados mortos sobre a cama no chalé de uma pousada de luxo de um dos cartões-postais mais charmosos de Minas Gerais ; a Serra da Moeda, em Brumadinho, na Grande BH ;, onde foram comemoravam a data. A falta de vestígios claros do que ocorreu entre as quatro paredes da hospedaria intriga parentes e amigos do casal. Já a polícia diz que só laudos periciais poderão revelar a causa e o motivo das mortes.
Uma hipótese é que tenha ocorrido um homicídio seguido de suicídio. Mas como não há a certeza de que não se trata de mortes naturais, a Divisão de Crimes contra a Vida assumiu o caso. Nesta versão, ele teria asfixiado a moça com um travesseiro e, em seguida, ingerido substância letal. Por isso, os corpos não apresentavam marcas de agressão. Uma pessoa contou que havia vestígios de fezes e vômito no chalé, mas a informação não é confirmada pela Polícia Civil. Os policiais que estiveram no local preferiram não confirmar nenhuma das possibilidades, preservando a família dos mortos. ;A perícia feita no local é inconclusa. O próximo passo é o laudo da necropsia;, afirmou a chefe da Delegacia de Pessoas Desaparecidas, delegada Cristina Coeli.
Os dois foram para a pousada na tarde de terça-feira para comemorar o primeiro aniversário de namoro. À noite, falaram por celular com amigos e parentes ; mas sem revelar aos pais onde estavam ; e pediram um jantar ao serviço de quarto da pousada. O prazo para que os dois deixassem a hospedagem seria às 13h de ontem, quando vencia a diária. Como eles não fizeram check-out, uma camareira foi ao quarto saber se ficariam mais um dia ou se havia ocorrido algo, mas, ao ouvir sons no banheiro, resolveu não incomodá-los.
Na madrugada de ontem, sem conseguir contato com Alessandra, a família foi à polícia dar queixa do sumiço. Enquanto isso, um irmão da jovem enviou uma mensagem via Facebook ; site de relacionamento pessoal ; para amigos, perguntando se um deles tinha informações de Alessandra e Gustavo. De manhã, a ocorrência foi encaminhada à Delegacia de Pessoas Desaparecidas para o início das investigações. Pouco depois, os parentes foram informados de que um amigo respondeu a mensagem, contando que os dois estariam na pousada Estalagem do Mirante, em Brumadinho, e pedindo que não se preocupassem, pois o casal estaria bem.
Na companhia do irmão de Alessandra, uma equipe da delegacia se deslocou até a hospedaria e, como a porta estava trancada, os policiais usaram uma cópia da chave para abri-la e acharam os corpos sobre a cama. Ela vestida com roupas íntimas e ele, nu. ;Não visualizamos nela nenhuma marca de violência e, no Gustavo, só uma pequena lesão no supercílio esquerdo, de cerca de um centímetro, o que não justifica a morte;, afirmou a delegada Cristina Coeli. A perícia constatou que os dois haviam morrido há cerca de 12 horas.
Não havia vestígio de tiros, drogas ou da presença de uma terceira pessoa, o que leva a polícia a praticamente descartar a hipótese de latrocínio ou de duplo homicídio. O único líquido encontrado foram resquícios de vinho em duas taças. ;Achamos o quarto em desalinho, com as coisas reviradas e objetos no chão. E dois analgésicos da Alessandra;, conta a delegada. Além disso, funcionários da pousada não ouviram nada que indicasse briga entre o casal. A policial explica que a hospedaria tem 16 chalés, um perto do outro, e caso tivesse ocorrido qualquer desavença ;os gritos e pedidos de socorro seriam ouvidos;.
A delegada confirmou que encaminhará o caso à Divisão de Crimes contra a Vida, chefiada pelo delegado Wágner Pinto, que deve repassar o inquérito a um dos delegados. O laudo de necropsia dos corpos pode ficar pronto ainda hoje. E o resultado do exame deve avaliar se o casal ingeriu algo que possa ter causado a morte. ;A minha competência no caso acabou;, afirma a delegada..
Cronologia
Terça-feira
14h30 - Alessandra Paolinelli e Gustavo Laje fazem check-in na pousada Estalagem do Mirante, na Serra da Moeda, para comemorar aniversário de um ano de namoro. À noite, casal pede um jantar no quarto. Os dois fazem contato com parentes por telefone e, aparentemente, tudo está bem
Quarta-feira
12h - Gustavo não aparece no restaurante onde trabalhava, surpreendendo colegas
13h - Uma camareira vai ao chalé do casal avisar sobre o vencimento da diária, mas prefere não incomodar ao ouvir sons no banheiro. Acredita que os dois decidiram ficar mais um dia
Entre 22h e 0h - Horário aproximado das mortes, segundo a perícia do Instituto Médico Legal
Ontem
0h45 - Parentes de Alessandra dão queixa à polícia do sumiço da jovem
8h30 - A Delegacia de Pessoas Desaparecidas assume o caso e inicia investigações
10h - A partir de uma mensagem num site de relacionamentos, investigadores, acompanhados do irmão de Alessandra, vão à pousada procurar o casal e acham
os corpos.