Jornal Correio Braziliense

Brasil

Sem estudo sobre risco, MPF recomenda suspensão da termelétrica de Candiota

Candiota (RS) ; A recomendação de anulação da licença de operação concedida à Fase C do complexo termelétrico do Candiota (RS), a procuradora do Ministério Público Federal (MPF) em Bagé, Paula Schirmer, sustenta que essa usina está interligada às Fases A e B. Essa conexão ocorre por meio dos pátios de armazenamento de carvão, da planta de gás hidrogênio, dos tanques de óleo combustível, do depósito de resíduos sólidos e, sobretudo, dos dutos de vapor gerados nas Fases A e B, que fluidizam o óleo combustível que dá a partida na caldeira da Fase C. ;Os três empreendimentos não podem ser monitorados ou analisados de forma isolada, principalmente no que tange à questão do cumprimento dos limites estabelecidos pela legislação vigente das emissões atmostéricas;, defende a procuradora.

Paula lembra que a vistoria feita pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Fase C, em outubro do ano passado, registrou que não havia possibilidade de emissão de licença de operação, uma vez que as obras estavam na etapa final de construção, com apenas uma edificação e uma chaminé terminados. Além disso, conforme informado pela Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), a desmobilização completa do canteiro de obras só ocorreria em 2011. A procuradora conclui que as instalações da Fase C ;não apresentam condições seguras de operação;.

Em novembro de 2010, o Ibama solicitou à CGTEE a revisão do projeto básico ambiental, com a instalação de duas novas estações de monitoramento da qualidade do ar e melhoria das já existentes. Em 29 de dezembro, a CGTEE foi notificada por ;violar os padrões de emissões atmosféricas estabelecidos pelo Ibama;. Uma nota técnica do Ibama considerou inviável a operação conjunta das Fases B e C, porque as emissões de gases já estavam acima dos limites previstos. Entre os cenários apresentados, o que apresentaria menor agressão ao meio ambiente seria o funcionamento apenas da Fase C.

Mais quatro usinas
O Ibama também apontou a necessidade de se realizar estudo de saturação da atmosfera na região sul do estado, com enfoque em Candiota e nos demais municípios do seu entorno: Hulha Negra, Bagé, Pedras Altas, Aceguá e Pinheiro Machado. Paula Schirmer informou que o Ibama está analisando a concessão de licenças de instalação de mais quatro termelétricas nos próximos anos. A mais adiantada delas é a MPX Energia, do empresário Eike Batista, com investimentos de US$ 1,4 bilhão e capacidade de geração de 600MW.

A procuradora argumenta que, como ainda não foi realizado o monitoramento atmosférico proposto, ;não é possível concluir neste momento se a violação dos padrões de emissão estabelecidos na lei está colocando em risco eminente a população;.

Para o Ministério Público, a emissão da licença de operação sem o atendimento de pendências na instalação da Fase C ;é flagrantemente ilegal e deve, portanto, se declarada nula;. A procuradora recomendou ao Ibama a anulação imediata da licença de operação para a Fase C e a não concessão de quaisquer licenças ambientais ao Complexo Termelétrico de Candiota até que seja atestada a viabilidade ambiental do empreendimento e a adequação das Fases A e B à legislação ambiental. Também foi solicitada a imediata suspensão da operação das Fases A e B.