Jornal Correio Braziliense

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Pintor que teve obra roubada da embaixada em Paris reclama do descaso

O mistério sobre o sumiço de obras de arte na embaixada do Brasil em Paris continua. Mais de duas semanas após o Correio mostrar com exclusividade que pelo menos 18 peças doadas por autoridades e artistas haviam desaparecido do prédio, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) mantém o silêncio sobre o assunto. A falta de respostas levou o artista plástico Gervásio Teixeira ; autor de um dos quadros levados ; a escrever uma carta ao embaixador José Mauricio Bustani, titular do cargo na França, cobrando mais atenção do Itamaraty com o patrimônio artístico exposto nas embaixadas pelo mundo e pediu para ser informado dos desdobramentos da sindicância aberta pelo governo brasileiro.

;Tomei conhecimento pela imprensa do desaparecimento de 18 obras de arte do acervo da Embaixada do Brasil na França. O assunto me envolve diretamente porque um dos quadros desaparecido é de minha autoria;, escreveu Teixeira, que pintou o quadro em 1982. ;Espero que as obras sejam recuperadas e voltem para o acervo da Embaixada e que o Itamaraty dê maior atenção ao patrimônio artístico de todas as representações diplomáticas do Brasil espalhadas em todo o mundo. Devo dizer que pretendo acompanhar o desdobramento deste caso e que gostaria de ser informado a respeito;, completou.

A reportagem entrou em contato com o MRE na tarde de ontem. Na primeira ligação, um funcionário da assessoria de imprensa informou que uma reunião estava ocorrendo naquele momento para tratar do assunto e pediu que o contato fosse retomado 30 minutos mais tarde. Na segunda tentativa, a assessoria ressaltou que não havia informação da reunião, mas que a sindicância ainda estava em andamento, sem prazo para ser concluída.

Fragilidade
Os telegramas aos quais o Correio teve acesso com exclusividade revelam o desleixo do governo em relação às obras de arte na embaixada. Em uma das mensagens, o embaixador destaca que há, na antessala do prédio, um quadro de Di Cavalcanti sem qualquer placa que identifique a obra. Isso significa que, oficialmente, o quadro, avaliado em US$ 1,5 milhão, não faz parte do patrimônio do governo brasileiro.

Dessa maneira, parte da história dessas obras se perde. Sem identificação ou histórico sobre o acervo, não se sabe, por exemplo, a quem pertence esse quadro de Di Cavalcanti ; se foi doado ou esquecido pelo pintor em Paris ; e outras dezenas de peças entregues por artistas de várias nacionalidades que não ganharam a plaqueta de patrimônio público.

Lista das obras que sumiram do prédio

* Tapete Boukara, Royal Russo, feito à mão (3,50m x 2,28m)

* Tapete Mesched, com borda em rosa, fundo azul (2,30m x 1,60m)

* Quadro de Marilu do Prado Wang, intitulado Enchaté (0,97m x 0,78m)

* Quadro de Gilda Basbaum, obra Volume I (0,90m x 0,90m)

* Quadro de Orlando de Magalhães Mollica, intitulado Mulher espichada (1,80m x 0,70m)

* Quadro de Orlando de Magalhães Mollica, intitulado Homem espichado (1,80m x 0,70m)

* Quadro de Chico Liberato, intitulado A vida é da cor que pintamos (1m x 1m)

* Quadro de Waltrand, intitulado Rodinha (0,40m x 0,50m)

* Quadro de Gervásio Teixeira (0,25m x 0,25m)

* Montagem de João Franck da Costa, intitulada Peixe (1,25m x 0,68m)

* Litografia antiga, com moldura em madeira dourada, intitulada Quinta da Boa Vista (0,68m x 0,63m)

* Gravura Ana Letícia, de 1967 (0,77m x 0,59m)

* Gravura representando mapa antigo, com moldura em madeira dourada e vidro (0,71m x 0,55m)

* Fotografia do Rio de Janeiro (0,60m x 0,45m)

* Fotografia do Rio de Janeiro (0,70m x 0,55m)