A luta por um corpo dentro dos padrões estéticos que são, de certa forma, impostos pela mídia e até mesmo por pessoas próximas tem as suas armadilhas. Nem sempre é possível seguir os hábitos recomendados pelos médicos de manter uma alimentação equilibrada e praticar exercícios físicos. O preço da desobediência quase sempre bate na balança. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas com excesso de peso e obesas aumentou nos últimos anos em todas as faixas etárias e de renda. Atualmente, 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos estão fora do peso ideal, de acordo com o cálculo de Índice de Massa Corpórea (IMC) considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A alternativa para reduzir as medidas, para muitos, é recorrer aos redutores de apetite. Mas os remédios viraram alvo, nas últimas duas semanas, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que propôs a suspensão do registro desses medicamentos no mercado brasileiro. De acordo com os médicos, os emagrecedores são necessários em casos extremos, quando todas as outras alternativas já se esgotaram. Mas há quem tenha vencido a guerra contra a balança sem colocar um comprimido sequer na boca.
Foram as refeições generosas em casa que fizeram a professora de português e nadadora Márcia Lina Freitas, 38 anos, ganhar bastante peso quando era adolescente. ;Acabava de almoçar e já estava com fome, comia três pães de uma vez;, lembra. Quem hoje vê a atleta com 56kg em seus 1,71m de altura não imagina que ela já teve 84kg. Márcia chegou a tomar remédios indicados por amigas para perder peso ; e passar mal por isso ;, mas o que surtiu efeito mesmo, no caso dela, foi o acompanhamento de uma nutricionista, aliado à prática de exercícios. ;Comecei a fazer dieta, mas entendi que era uma reeducação alimentar, porque eu não deixei de comer nada. Salgadinhos e refrigerante não eram proibidos, mas eu aprendi a controlar a quantidade;, conta.
O excesso de peso não deve ser visto como um problema estético, mas sim como doença, segundo a psicóloga especialista em obesidade e distúrbios alimentares Ana Paula Pongelupe. Mais do que desleixo, o aumento nas medidas está relacionado a diversos fatores, e o primeiro passo para recuperar a saúde é identificar as causas. ;Não é só uma questão fisiológica, diz respeito ao corpo, mas também à condição psicológica alterada;, afirma. Na hora de tentar emagrecer, tudo deve ser considerado ; até mesmo se a pessoa é de família mineira ou italiana, que tem aquela tradição de mesa farta todos os dias. ;Não podemos desconsiderar a condição cultural da pessoa, ela está em um contexto familiar e não sozinha;, explica Ana Paula.
E manter um corpo mais ;cheinho;; pode ainda ser um fator, quem diria, externo. ;Já tive uma paciente, pré-adolescente, cujos pais ; inconscientemente ; a mantinham gordinha para adiar que ela se desenvolvesse sexualmente, que permanecesse uma ;criança; aos olhos do mundo, como forma de proteção;, conta a nutricionista.
A matemática do peso
A fórmula consiste em dividir o peso pela altura elevada ao quadrado. De acordo com a OMS, o IMC acima de 25 é considerado sobrepeso, e a obesidade é diagnosticada quando o cálculo tem resultado maior que 30. Valores inferiores a esse significam que a pessoa não tem problema de excesso de peso.
DEPOIMENTO
Vida nova para fugir da cirurgia
A estudante Daniela Lins (foto) resolveu promover uma mudança drástica na vida após ver a balança apontar 99,8kg em seu corpo de 1,67m. Depois de várias tentativas desde a adolescência, a brasiliense, hoje com 31 anos, optou por emagrecer pelo método tradicional e perdeu 30kg em um ano e dois meses.
Antes acostumada a recorrer a alternativas rápidas ; já havia tomado anorexígenos duas vezes, mas chegou a desmaiar e ficar sem enxergar por um dia devido a uma fórmula manipulada de maneira errada ;, a opção que lhe pareceu conveniente foi a cirurgia bariátrica. ;Procurei um médico, mas ele me disse que, para o plano de saúde liberar a operação, eu precisava ganhar mais 10kg. Eu não aguentava mais o meu peso, se engordasse mais, não conseguiria caminhar;, lembra.
O primeiro passo, há dois anos, foi buscar ajuda psicológica, que diagnosticou uma compulsão alimentar. Em seguida, ela procurou uma nutricionista, que a visita toda semana para conferir o andamento da dieta e adequar o cardápio, quando necessário. Apoiada no âmbito psicológico e nutricional, faltava a Daniela mudar outro hábito: começou a fazer exercícios. ;Eu era muito sedentária, mas depois de um tempo você vai vendo o resultado e começa a gostar.;
Para ela, a grande dificuldade é mudar a forma de pensar. ;Tenho um amigo que fez a cirurgia bariátrica, emagreceu 120kg, mas engordou de novo;, diz. Por saber dos entraves enfrentados por quem deseja perder peso, a jovem montou o blog Intimidade com a Balança (www.intimidadecomabalanca.blogspot.com) para contar sua batalha e, desde novembro do ano passado, incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo.