Na maioria das vezes, até os médicos recorrem à generalização dos "hábitos saudáveis" no combate ao surgimento de um eventual câncer por dois motivos. O primeiro: a prevenção é cercada por mitos e, em determinadas situações, os próprios especialistas têm opiniões divergentes. Enquanto alguns sustentam que frutas, verduras e legumes específicos são os reais aliados, outros discordam e refutam a tese de que apenas um ou outro alimento possa ter componentes definitivos na ação contra células malignas.
A segunda razão: de fato, o surgimento de um câncer é resultado de inúmeras variáveis, como atesta o oncologista Murilo Buso, do Centro de Câncer de Brasília: "São vários pontos combinados que vão levar, ao longo de uma vida, a um câncer", resume e, em contrapartida, a prevenção também não se dá por uma ou duas boas intenções. É consenso entre os profissionais que a combinação desses hábitos saudáveis são o que mais se aproxima de um escudo. E, por "hábitos", entenda-se que se trata de um leque amplo: até fatores psicológicos podem facilitar o surgimento de um tumor.
O sinônimo clínico da "vida regrada" pode ser traduzido, na verdade, como um sistema imunológico fortalecido. "O sedentarismo, por exemplo, deixa o metabolismo lento, e faz com que o organismo retenha substâncias, prejudica a circulação", explica o médico Celso Rodrigues.
E quem acredita que pode substituir o menu saudável ou mesmo os exercícios físicos por uma saída menos trabalhosa, em gotas ou pílulas, por assim dizer, pode rever suas ideias. O uso de vitaminas e suplementos alimentares, por exemplo, pode levar a resultados contrários ao esperado. "Se houver um tumor em início, o excesso de vitaminas B1, B2, B6 e B12 pode acelerar o crescimento. O câncer pega tudo que há de bom no organismo e começa uma multiplicação desordenada da célula", explica Rodrigues.
[SAIBAMAIS]Além dos cuidados em casa, com a alimentação ou a prática de exercícios, fazer exames preventivos e ser acompanhado por profissionais especializados é importante não só para evitar o aparecimento do câncer, mas também para detectá-lo em estágio inicial, quando as chances de cura aumentam significativamente. Quem tem histórico familiar de câncer deve ter a atenção redobrada para não ser pego de surpresa. "É um subgrupo pequeno, mas que merece um cuidado especial. Essas pessoas vão fazer estratégias de detecção precoces e prevenção mais rigorosa", resume Murilo Buso.
Ignorar o exame preventivo pode ser um problema. A manicure Antônia Maria Santos, 36 anos, teve uma tia com diagnóstico de câncer, mas não costumava realizar qualquer teste preventivo. Acabou fazendo o autoexame um dia e percebeu um caroço no seio esquerdo. Ao procurar ajuda médica, descobriu que tinha a doença em estágio avançado. Clientes e amigos a ajudaram a pagar uma tomografia para que ela pudesse fazer a cirurgia emergencial, em maio do ano passado. "Não gosto de comer, por isso não tinha uma alimentação regrada. Foi sorte conseguir a cirurgia tão rápido", comemora a manicure, que passou por quimioterapia, radioterapia e terá que tomar medicamentos por mais cinco anos.