Jornal Correio Braziliense

Brasil

Carnaval do Rio tenta renascer das cinzas

Rio de Janeiro e Brasília ; A fragilidade do sistema de contenção de incêndios na Cidade do Samba, na região portuária do Rio de Janeiro, associada à imensa quantidade de materiais inflamáveis e de fácil combustão, fez o sonho de um belo carnaval ficar mais distante para os integrantes de três escolas de samba. O desfile deste ano se transformou em desafio para Grande Rio, Portela e União da Ilha, que tiveram seus barracões destruídos por um incêndio na manhã de ontem. O fogo se alastrou por quatro dos 14 prédios do complexo de galpões. Além das escolas, o local destinado à Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), onde funcionava um museu do carnaval, também foi atingido.

Passado o susto do incêndio ; que não deixou feridos ;, todas as escolas do grupo especial do estado vão se unir em uma corrida contra o tempo para os desfiles. Uma força-tarefa será montada para tentar reconstruir as alegorias e refazer as fantasias. No entanto, conseguir entrar no sambódromo nos próximos dias 6 e 7 de março em nível competitivo é uma utopia para as escolas atingidas. O trabalho que normalmente leva o ano inteiro dificilmente conseguirá ser recuperado em menos de um mês. ;É impossível refazer tudo em tão pouco tempo. Elas terão que optar por algo mais simples;, afirmou Wagner Tavares de Araújo, diretor de carnaval da Imperatriz Leopoldinense, que passou por um incêndio em 2001. Hélio de Oliveira, presidente da Grande Rio ; escola que teve o maior prejuízo e perdeu os 8 carros alegóricos e 3,3 mil fantasias ; também lamentou o acidente às vésperas do carnaval. ;Não conseguiríamos refazer nem em 90 dias, quanto mais em 30;, disse, abatido. Mais oito mil fantasias foram destruídas no total.

Vistoria
Os pavimentos superiores dos prédios atingidos pelo fogo na Cidade do Samba serão demolidos para que as escolas possam voltar a usar o espaço antes do carnaval. No entanto, segundo a Defesa Civil do Rio de Janeiro, após a derrubada haverá uma nova vistoria para verificar se o térreo também foi comprometido. Durante o incêndio, o teto e algumas paredes do barracão da Grande Rio chegaram a desabar. ;Contactamos as empresas que construíram os prédios para que eles avaliem o prejuízo e comecem imediatamente a reconstrução;, disse o secretário de Turismo do Rio de Janeiro, Antônio Pedro Mello. Ele afirma que as chamas chegaram a proporções que não podiam ser contidas pelo sistema da Cidade do Samba. ;Conversei com o Corpo de Bombeiros e eles me falaram que, mesmo que tudo estivesse funcionando, era um incêndio muito difícil;, justifica. A hipótese de incêndio criminoso foi descartada e o laudo técnico dos Bombeiros com o motivo do incêndio deve ser divulgado hoje.

A administração da Cidade do Samba estima que os prejuízos das três escolas que tiveram seu material destruído pelo fogo possam chegar a R$ 8 milhões. No carnaval deste ano, em solidariedade às agremiações prejudicadas pelo incêndio, não haverá rebaixamento, e as três escolas atingidas não serão avaliadas. A ordem de apresentação também será alterada, já que as três escolas atingidas entrariam na avenida no mesmo dia, o que poderia provocar uma diminuição do público. A Portela, que desfilaria na segunda-feira, entrará no domingo. A Mocidade Independente de Padre Miguel, iria ao sambódromo no domingo, passa a desfilar na segunda-feira.

O show que não pode parar
O olhar desolado de Wagner Ramos, ritimista da Grande Rio, traduzia o cenário de tristeza na Cidade do Samba após o trabalho de meses ser consumido pelo fogo em três horas. Mas mesmo com o sentimento, os integrantes mantêm forte a vontade de desfilar. ;Quero minha escola na avenida de novo. Vamos arregaçar as mangas para montar tudo de novo;, disse Wagner. O presidente da agremiação, Hélio de Oliveira, afirma que a apresentação não será cancelada. ;Vamos deixar as pessoas desfilarem, nem que seja só com a camiseta da escola. O samba não pegou fogo.;

Assim que a Defesa Civil liberou a entrada nos prédios incendiados, muitas pessoas tentaram salvar o que não foi atingido pelo fogo. Entre elas estava a atriz Sheron Menezzes, rainha de bateria da Portela. ;Estamos muito confiantes de irmos para a avenida, não importa como. Vamos fazer um carnaval bonito e de emoção, não grande, pois perdemos muita coisa, mas de união;, disse a moça, enquanto carregava faixas. Segundo o presidente da escola, Nilo Figueiredo, os carros da Portela ; que perdeu 2.800 fantasias ; não sofreram danos. ;Daremos o toque final nas alegorias e vamos tentar trabalhar novas fantasias em nossa quadra;, afirmou. (AES e JPS)


ESCOLAS AFETADAS
Grande Rio

Vice-campeã do carnaval de 2010, a Acadêmicos do Grande Rio é conhecida pela qualidade técnica ; apesar de nunca ter vencido o grupo especial ; e pelos artistas que a integram, entre eles, Suzana Vieira e Marília Gabriela. Até 2010, teve a atriz Paola Oliveira (foto) à frente da bateria. A escola leva à avenida, este ano, o enredo Y-Jurerê Mirim ; A encantadora Ilha das Bruxas (Um conto de Cascaes), falando sobre a cidade de Florianópolis (SC).

Portela
Simbolizada por uma águia azul, sempre presente em um dos seus carros alegóricos, a Portela é a maior vencedora dos carnavais do Rio de Janeiro. A agremiação foi fundada em 1926 no bairro Oswaldo Cruz e, desde então, conquistou 21 títulos do grupo especial, mas não vence o carnaval sozinha há quase três décadas, desde 1984. Com a atriz Sheron Menezzes como rainha de bateria, a escola desfila este ano com o enredo Rio, azul da cor do mar.

União da Ilha
Escola de samba inaugurada em março de 1953, tem a quadra instalada no bairro da Cacuia, na Ilha do Governador. A agremiação subiu ao grupo especial no ano passado, após ser rebaixada em 2001, e terminou o carnaval em 11; lugar. Jamais sagrou-se campeã do grupo especial, mas carrega no currículo 19 Estandartes de Ouro. Este ano, entra no sambódromo com o enredo O mistério da vida.