José Siqueira soube que as casas de farinha de Vera Cruz (RN), após prensarem a mandioca, deixavam que o líquido poluente extraído escorresse até uma lagoa ali perto. Inês Lourenço notou que Umuarama (PR) carecia de mais árvores. Marilúcia Ferreira começou a se incomodar com o fato de que, no seu bairro, no Rio de Janeiro, ninguém dava a mínima para a reciclagem de lixo. Rosemeire da Silva percebeu que, no assentamento rural Itamarati, em Pontaporã (MS), o pessoal penava para fazer a terra produzir em grande quantidade. E Cristina de Mello não gostava de ver que as histórias antigas de São Sebastião da Boa Vista, na Ilha de Marajó (PA), corriam risco de ser esquecidas.
Em vez de ficarem apenas se queixando desses problemas, essas cinco pessoas resolveram agir. Idealizaram projetos simples e baratos, mobilizaram suas comunidades e conseguiram beneficiar os lugares em que vivem. Os esforços deles, que são professores, foram reconhecidos. Eles venceram o concurso nacional Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais e, como prêmio, embarcaram para o Senegal, na África, onde participam da 11; edição do Fórum Social Mundial (FSM). No evento ; que começa hoje e segue até sexta-feira ;, o grupo apresentará seus projetos em oficinas e debates e conhecerá iniciativas de outras tantas partes do mundo. ;O projeto mostrou que podíamos dar conta de nossa subsistência e ainda ter renda;, comemora Rosemeire da Silva.
O conceito de tecnologia social refere-se a produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidos coletivamente, eficientes na resolução de problemas sociais e voltados para as áreas de educação, saúde, meio ambiente ou trabalho e renda. ;Queremos divulgar as formas de tecnologia social e mostrar aos gestores públicos que ela apresenta soluções efetivas e de baixo custo;, conta Jefferson de Oliveira, gerente de Parcerias, Articulações e Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil (FBB), responsável pelo concurso.
A iniciativa de apoiar e premiar trabalhos com esse perfil começou em 2010, recebeu mais de 3 mil inscrições e selecionou cinco projetos, um de cada região do país. ;No nosso banco de tecnologias sociais, há um desequilíbrio: a maioria das iniciativas é do Sudeste;, explica Oliveira. ;Quisemos dar oportunidade para outras regiões mostrarem o que têm produzido nessa área;, justifica. Poderiam participar empreendimentos já implementados ou que ainda não tinham saído do papel. ;Porém os que já foram concretizados permitem que se dimensione melhor sua efetividade. Não à toa, essa é a condição dos cinco vencedores;, informa a consultora da FBB Cristiane Perin, integrante da comissão de seleção.