Teresópolis ; Campo Grande, o bairro onde Marli dos Santos Carvalho morou nos últimos 31 anos, não existe mais. Os deslizamentos provocados pelas fortes chuvas ocorridas na madrugada de 12 de janeiro na cidade de Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, soterraram o local. No lugar das casas, muita lama, postes caídos e um rio que tomou novo curso depois da tempestade. Após buscar os poucos pertences que conseguiu salvar, a mulher de 48 anos lamentava a pior das perdas: o cunhado e três sobrinhas. Eles fazem parte dos 879 mortos no Brasil somente neste mês que termina amanhã, sem contar os quase 700 desaparecidos já contabilizados.
;Vivia desde novinha aqui, nunca vi uma coisa tão triste feito essa. Muita gente morreu, muitos conhecidos e vizinhos;, conta Marli, quase sem acreditar no que sobrou do bairro. Ela é uma das 92.032 pessoas desabrigadas ou desalojadas no país. Gente que perdeu todo o patrimônio, conquistado muitas vezes durante uma vida inteira. ;Eu só consegui pegar algumas roupas;, diz a mulher, que levou os pertences restantes para um abrigo público, local de onde Marli não sabe quando poderá sair. A empresa onde ela trabalhava também foi soterrada pelos deslizamentos de terra. ;Não sei o que vou fazer da vida.;
Nas áreas atingidas de Teresópolis, a falta de perspectivas para o futuro é a regra, não exceção. Ninguém sabe ao certo como será o destino das pessoas que perderam tudo nem quanto tempo terão que ficar dependendo da caridade alheia. Embora o governo tenha anunciado o pagamento do aluguel social e a permissão para o saque de parte do FGTS ; quase sempre a única reserva de dinheiro das vítimas ;, as ações concretas nesse sentido pecam pela lentidão. Já foi verificado, por exemplo, que não há casas disponíveis para abrigar as pessoas por meio do aluguel social.
Desaparecidos
Marli está sem rumo. Entre tantas necessidades, ela gostaria, ao menos, de sepultar os parentes e amigos mortos. O problema é que muitos deles estão na lista de desaparecidos. As contas da população que morava em Campo Grande é de que, entre os 6 mil moradores, nem metade conseguiu sair. ;Tem muita gente morta embaixo dessa destruição;, repete Marli. Até Eduardo Macedo, especialista em planos de gestão de riscos geológico-geotécnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que visitou Teresópolis depois da tragédia, ficou surpreso. ;Foi muita água em Campo Grande para arrastar tanta terra;, diz.
Um dia após o Correio noticiar a dificuldade em se distribuir os donativos às vítimas da chuva na região serrana e constatar que o envio de produtos doados pelos brasiliense é deficiente, organizações de ajuda humanitária encerraram ontem o recebimento de mantimentos. A Cruz Vermelha, segundo a Agência Brasil, prepara-se para começar a segunda fase da campanha, com doações em dinheiro, e o Viva Rio já cadastra instituições fluminenses que quiserem receber as roupas doadas.