Nos 30 primeiros dias de 2011, 879 pessoas morreram por desastres envolvendo as chuvas. Somadas às 676 que estão desaparecidas, o pior janeiro da história brasileira em função de enchentes e deslizamentos registrou uma média de 75 óbitos diários. Ou três vidas soterradas a cada 60 minutos. Quase 100 mil pessoas ficaram sem casa ; o número pode ser comparado a toda a população de Formosa (GO), na divisa com o Distrito Federal. Cerca de 500 cidades estão em situação de emergência. No ano que mal começou mas já se tornou o mais dramático no que se refere às tragédias naturais, as chuvas concentradas, aliadas à desorganização urbana e à falta de um sistema de alerta eficiente, evidenciaram ; desta vez com estragos e perdas sem precedentes ; a necessidade de prevenção.
A despeito de toda culpa atribuída às chuvas fortes num curto espaço de tempo, Isimar dos Santos, professor de meteorologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o fenômeno ocorrido nas áreas afetadas é ;marcante;, mas não chega a ser ;fora do padrão;. ;Claro que chover 300 milímetros em um ou dois dias é algo digno de nota. O problema, no entanto, é que foi uma chuva intensa em áreas que já estavam vulneráveis, por conta das moradias próximas de rios ou de montanhas;, destaca.
São Paulo, onde 22 pessoas morreram e 12,5 mil estão desabrigadas ou desalojadas, é a prova disso. Lá, as chuvas bateram o recorde de 493,7 milímetros neste mês, superando os 481,4 registrados em janeiro de 1947. ;Se estamos falando de uma área totalmente impermeabilizada como uma grande cidade, onde os quintais das casas têm cimento e as ruas são todas asfaltadas, a água não infiltra. E a consequência vem com a cheia dos rios;, explica Eduardo Macedo, especialista em planos de gestão de riscos geológicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Macedo defende um sistema de alerta nos moldes do implantado em São Paulo, em 1989, pelo menos em curto prazo. ;Fazer obras nas encostas é demorado, não há casa para retirar todos os moradores. Teremos que conviver com essas intempéries;, diz. Segundo o especialista, a única forma é a previsão do tempo trabalhar com a medição da chuva, tendo na ponta homens treinados da Defesa Civil, que, conhecendo as áreas de risco, podem ser acionados horas antes de uma tragédia ocorrer. As de São Paulo, mesmo diante de um sistema supostamente tão bom, são explicadas por Macedo pelo tamanho da cidade. ;O gigantismo de um estado como esse resulta em falhas;, minimiza. Ele também atribui ao sistema de previsão de tempo parcela da responsabilidade. ;Não adianta dizer que vai chover na região serrana, que é muito grande.;
Luiz Cavalcanti, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), considera as críticas injustas. ;Fazemos previsão de chuvas todos os dias, mandamos alertas, temos mapas praticamente em tempo real. Cabe aos órgãos de Defesa Civil das cidades terem a relação de áreas vulneráveis para tomarem as providências. Dizer que vai chover em determinada rua, aí, só Deus.;