A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro comoveu os brasileiros e alavancou as doações para as vítimas da chuva. Tamanho foi o empenho em colaborar que, duas semanas após os primeiros deslizamentos, o estoque já é suficiente para atender a demanda local, segundo a Cruz Vermelha Brasileira. Apesar disso, nada será desperdiçado. ;O que recebermos daqui em diante será levado a outras regiões em situação de risco, como Santa Catarina e Minas Gerais;, destaca o presidente nacional da organização, Walmir Moreira Serra Júnior.
O volume de doações fez as filiais da Cruz Vermelha do Distrito Federal e de Minas Gerais suspenderem temporariamente as arrecadações. De acordo com o chefe de Socorro do Departamento de Desastres da organização em Brasília, major Clayson Augusto Fernandes, já foram enviadas 200 toneladas de donativos, na última semana, e mais 15 toneladas ontem, entre mantimentos, água e materiais de limpeza e de higiene pessoal. ;A prioridade agora é enviar os donativos;, destaca.
Desde ontem, as doações também podem ser entregues nas agências do Correios, que as entregarão gratuitamente. As postagens devem estar endereçadas à Defesa Civil do Rio de Janeiro e não podem ultrapassar 30 quilos. São aceitos alimentos não perecíveis, peças de vestuário, roupas de cama, mesa e banho, calçados, tendas e barracas.
O sentimento de solidariedade mobilizou pessoas de todos os níveis sociais. Francisco Pascoal Caçula, 85 anos, morador de Luziânia ; município goiano distante 66km de Brasília ;, ganha um salário mínimo por mês, mas fez questão de colaborar. ;Sei o que é passar fome. Fiquei muito tocado com o que aconteceu lá no Rio.; O aposentado tem câncer no pé e, por recomendações médicas, não pode andar. Mas, apesar da dificuldade, fez questão de sair de casa para comprar água e alimentos para enviar à vitimas. Em Luziânia, uma das cidades mais violentas do Entorno do Distrito Federal, a mobilização aconteceu via rádio, pelo programa de uma emissora local, e arrecadou cerca de 15 toneladas de doações diversas.
Além de donativos, há quem também dedica parte do seu tempo para ajudar as vítimas, como o universitário Max Meirelles, 23 anos, um dos voluntários da Cruz Vermelha em Brasília. O jovem se cadastrou na organização após um convite e convenceu também um amigo a se voluntariar. ;Costumamos dizer por aqui que, quando o ;bichinho; morde, não tem mais volta. É gratificante saber que damos um pouco a quem não tem nada.;
Calamidade
Em situações de calamidade, como no Rio de Janeiro, a Cruz Vermelha age em dois momentos, como explica a responsável pelas relações institucionais da organização, Carmen Serra. O primeiro passo é receber, organizar e entregar as doações. A segunda etapa envolve a aplicação dos recursos financeiros recebidos (veja o quadro acima).
Segundo Carmen, o dinheiro arrecadado auxilia no restabalecimento das comunidades, com a cooperação na reconstrução de casas, apoio psicológico às vítimas e acompanhamento de doenças. Ela destaca, no entanto, que ainda não há uma quantidade significativa de doações financeiras.
O que doar
Confira os itens aceitos como doações pela Cruz Vermelha brasileira:
; Roupas
; Alimentos não perecíveis
; Água
; Material de higiene
; Material de limpeza
Serviço
A Cruz Vermelha recebe, também, doações em dinheiro, repassadas à filial do Rio de Janeiro, que investe o valor de acordo com a necessidade das vítimas da região serrana. Veja como ajudar:
Banco do Brasil
Agência: 1611-X
Conta-corrente: 80.000-7
Ainda sem notícias de 513 pessoas
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou, na tarde de ontem, que subiu para 513 a quantidade de pessoas desaparecidas em decorrência da tempestade que devastou a região serrana do estado há duas semanas. Teresópolis (234) e Nova Friburgo (187) encabeçam a lista. Segundo o MPRJ, o número de mortos tende a continuar subindo à medida que as equipes de resgate conseguem chegar a localidades isoladas.
Até a tarde de ontem, o número de óbitos tinha chegado a 814. Segundo a Defesa Civil, o município que registrou mais fatalidades foi Nova Friburgo, com 394; seguido por Teresópolis, com 327; e Petrópolis, com 67. As outras vítimas foram encontradas nas cidades de Sumidouro (21), São José do Vale do Rio Preto (quatro) e Bom Jardim (uma).
Enquanto os municípios da região serrana fluminense ainda contabilizam os mortos, os trabalhos para a retirada de entulho e de reparação dos danos têm sido intensificados. No próximo fim de semana, por exemplo, está previsto o início das obras nas 104 pontes destruídas pelas chuvas na região.
FGTS
O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) será liberado para 173.039 trabalhadores das regiões do Rio atingidas pela chuva. O dinheiro estará disponível para os trabalhadores de Petrópolis, de Teresópolis e de Nova Friburgo. A estimativa é que sejam sacados R$ 492 milhões. O valor limite é de 10 salários mínimos por pessoa ; R$ 5,4 mil.
Caos em Santa Catarina e em Minas
As fortes chuvas no estado de Santa Catarina levaram a Defesa Civil a decretar estado de emergência em 28 municípios, entre eles, Alto Vale do Itajaí e Mirim Doce. De acordo com a Defesa Civil do estado, 52 cidades foram afetadas pelas chuvas na região. Foram contabilizadas 15.954 pessoas desalojadas, 1.745 desabrigadas, 780 deslocadas para casas de parentes e amigos, e cinco mortas. Em Minas Gerais, 17 pessoas morreram, 2.626 estão desabrigadas e 147.301 desalojadas. Noventa e oito cidades estão em situação de emergência. O governador do estado, Antonio Anastasia, anunciou a liberação de R$ 3 milhões para obras nos municípios afetados pelas enxurradas e para a reconstrução de pontes danificadas na cidade de Ipuiúna.