Ullisses Campbell - Enviado especial
Franco da Rocha (SP) ; Cinco dias depois da chuva que castigou o estado de São Paulo, a água começou a baixar nas cidade atingidas. Ainda assim, o município de Franco da Rocha, na região metropolitana da capital, continuava com 90% das edificações submersas, inclusive os prédios da prefeitura, do fórum e da câmara municipal. Ontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) visitou o local e disse que vai retirar em caráter de urgência 100 famílias do local.
A enchente que cobre Franco da Rocha não é só obra da natureza. Logo depois do temporal do início da semana, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) abriu as comportas da represa Paiva Castro, localizada ao lado da cidade. A água escorreu para o município e subiu, na parte mais baixa, a 5m de altura. Ontem, depois de muitas críticas, a represa teve a vazão reduzida, fazendo com que a água baixasse em Franco da Rocha, que está em situação de emergência há três dias. Ao visitar a cidade, o governador Geraldo Alckmin disse que vai investigar com rigor se houve erro técnico da Sabesp ao abrir as comportas.
Nessa quinta-feira, o Correio navegou em um bote do Corpo de Bombeiros pelas principais avenidas da cidade. Em determinados pontos, a correnteza estava tão forte que nem era possível avançar. Nas partes menos inundadas, a água já começava a exalar mau cheiro e a aumentar os riscos de contaminação por leptospirose e hepatite, além de doenças de pele.
Enquanto a tragédia assola a cidade, os moradores contabilizam os prejuízos. A vendedora Carla Amadeu, 45 anos, está sem trabalhar desde terça-feira. Os móveis da casa que resistiram à inundação estão suspensos em engradados de cerveja. ;Perdi uma geladeira que comprei no ano passado e uma televisão que comprei no Natal, em 24 prestações;, lamenta. O refrigerador foi comprado depois de uma enchente no ano passado. ;Todos os anos a água sobe, mas nunca chegou a esse nível;, conta.
O ambulante Cristiano Miranda, 33 anos, também está sem trabalhar por causa da cheia em Franco da Rocha. Ele vende frutas no Mercado Municipal e não foi mais à sua banca desde que a água invadiu todos os cômodos da casa. ;Consegui salvar a geladeira, o fogão e as duas televisões porque, enquanto a água subia, fui suspendendo os móveis e os eletrodomésticos nas vigas de madeira do forro. Os vizinhos me ajudaram;, relata. O alagamento também isolou os moradores, porque a linha de trem que liga Franco da Rocha a São Paulo foi interditada.
Mortes
Para hoje, na Grande São Paulo, a previsão é de pancadas de chuvas entre as cidades de São Bernardo do Campo e Santo André. Desde que o verão começou, em dezembro, as chuvas que caem sobre o estado já mataram 23 pessoas, sendo 12 só na região metropolitana.
Em MG, situação de emergência
Luana Cruz
Belo Horizonte ; Subiu para 70 o número de municípios em situação de emergência em Minas Gerais. Todos sofreram inundações devido às tempestades que assolam o estado. De acordo com a Defesa Civil, 1,2 milhão de pessoas foram afetadas, 15.630 ficaram desalojadas e 2.295, desabrigadas. Desde o início da temporada de chuvas, em outubro, 16 pessoas morreram em Minas.
Em todo o estado, as autoridades têm tido trabalho para lidar com os estragos e atender a população. Em Montes Claros, por exemplo, no norte do estado, os bombeiros foram chamados para vistoriar casas com risco de desabamento e orientaram os moradores a deixar os locais ameaçados.
Na madrugada de ontem, em Belo Horizonte, a Defesa Civil registrou sete ocorrências, a maioria referente a risco de deslizamentos de encostas.
Na zona rural de Conceição do Rio Verde, no sul de Minas, os moradores estão isolados. A ponte que ligava o município às comunidades rurais caiu. A prefeitura local informou que vai pedir ajuda ao governo do estado para reconstruir a ponte.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o tempo deve permanecer instável e a previsão para os próximos dias é de mais chuva em todo o estado.