Juracy Vieira dos Santos, 51 anos, era hoje (12) o parente mais contido no velório de seu filho, Paulo dos Santos, de 16 anos. Enquanto sua mulher e os filhos lamentavam a morte de Paulo, vítima de um desmoronamento em Mauá, Juracy mantinha-se calmo, calado, e procurava consolar um a um. Por pouco, porém, ele não estaria ali.
Há cerca de um ano, o próprio Juracy quase foi vítima de um desmoronamento causado por fortes chuvas no bairro Zaira. Ele dormia sozinho na madrugada do dia 17 de dezembro de 2009, quando ouviu o barulho da terra descendo do morro atrás de sua casa e correu. Escapou sem grandes ferimentos. O filho Paulo, porém, não teve a mesma sorte meses depois.
Paulo dormia na casa que Juracy construiu a poucos metro do local de sua antiga morada, destruída pela chuva de 2009, quando a tempestade da madrugada segunda (10) para terça-feira (11) derrubou outra encosta do mesmo morro. Oito pessoas estavam no local na hora do desmoronamento, inclusive Juracy. Sete se salvaram, mas Paulo, não.
Juracy disse que sabia do perigo que ele e a família corriam no Zaira, mas perguntou: ;Para onde eu vou? Ninguém quer ficar ali, mas não tenho opção.; A casa de Juracy foi completamente destruída pela chuva. Ele disse que não tem mais nenhum móvel, eletrodoméstico ou roupas limpas.
Desde segunda-feira, a família se divide para dormir na casa de vizinhos. Juracy dorme no carro: ;aquele Fiat velho;, disse, apontando para o Uno vermelho estacionado ao lado do cemitério. Sobre o futuro, Juracy disse que pretende recomeçar a vida longe do Zaira. Não sabe, entretanto, será terá condições de arrumar uma casa fora dali para a família.
A prefeitura de Mauá informou que famílias desabrigadas podem encaminhar-se para abrigos e receberão auxílio-aluguel. Juracy, entretanto, disse que até agora não recebeu orientação alguma sobre tal ajuda.