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Prefeitura de Cuiabá interdita UTI neonatal depois da morte de cinco bebês

Desde o dia 18 de dezembro, cinco bebês morreram com suspeita de contaminação com uma bactéria multirresistente

A prefeitura de Cuiabá interditou nesta terça-feira (28/12) a UTI neonatal do Pronto-Socorro Municipal, o maior hospital público da cidade. Desde o dia 18 de dezembro, cinco bebês morreram com suspeita de contaminação com uma bactéria multirresistente. As autoridades descartaram a possibilidade de a infecção ter sido provocada pela superbactéria KPC, que fez vítimas em várias cidades brasileiras, principalmente Brasília.

Em duas crianças, o resultado da hemocultura confirmou a presença de Staphylococcus Epidermidis, bactéria normalmente encontrada na pele humana, mas bastante invasiva quando aparece em pessoas com sistema de defesa debilitado. "Está quase certo de que se trata de uma infecção externa, o que é menos grave. Seria muito pior se fosse uma infecção no ambiente hospitalar", explicou hoje o secretário-adjunto de Saúde de Cuiabá, Euze Carvalho.

O secretário municipal de Saúde (SMS), Maurélio Ribeiro, informou que depois do registro do primeiro óbito as internações na unidade, que tem 10 leitos, foram suspensas. Além dos cinco recém-nascidos, havia outros dois bebês na UTI, que não apresentaram os sintomas e já receberam alta.

A primeira morte aconteceu no dia 18 de dezembro. Outras duas crianças morreram no dia 24. A quarta criança morreu no dia 25 e a última, no dia 26. Os bebês tinham de zero a oito meses de vida. Ao constatar os primeiros sintomas, os médicos entraram com a medicação recomendada para estes casos, a Vancomicina, mas não houve resposta.

Segundo Euze Carvalho, a Staphylococcus Epidermidis em geral não provoca danos, a não ser quando encontra organismos debilitados, como era o caso das crianças internadas. Todas elas apresentavam quadro de cardiopatias e problemas neurológicos e metabólicos.

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso, Arlan Azevedo, criticou a falta de estrutura do Pronto-Socorro. O CRM recebeu a denúncia de que houve compartilhamento de termômetros entre crianças na UTI neonatal, o que não é recomendado. "O que se preconiza é que cada unidade incubadora tenha um termômetro", afirmou Azevedo. Ele anunciou que vai investigar se o compartilhamento aconteceu no mesmo período em que houve as infecções. Ainda nesta semana, o CRM fará uma inspeção na UTI neonatal.

O CRM também recebeu a notícia de que chegou a faltar água na UTI, o que obrigou os médicos e enfermeiros a higienizar as mãos usando álcool com concentração de 70%. No final da tarde de ontem, o promotor da Infância e Juventude de Cuiabá, José Antônio Borges, abriu um procedimento para investigar o caso. Ele vai notificar o secretário de Saúde para, num prazo de 24 horas, informar a respeito das providências tomadas após a morte das crianças. Se for constatado que houve negligência, imperícia ou imprudência, os responsáveis pelo hospital poderão ser processados civil e criminalmente.