Rio de Janeiro ; Os moradores da comunidade de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, comemoram hoje (24/12) a inauguração do primeiro cinema a funcionar dentro da favela. A sala erguida pela prefeitura conta com um projetor 3D e seguirá a programação do circuito comercial sob responsabilidade da Riofilme, empresa vinculada à Secretaria Municipal de Cultura. As obras foram iniciadas há 12 meses e o investimento custou R$ 3 milhões.
Morador do Alemão, o estudante Bruno da Rocha, 12 anos, entusiasmou-se por não precisar mais pegar várias conduções para assistir a um filme no cinema.;No último filme que vi, tive que andar de ônibus, kombi, um monte de coisa. Foi longe;, disse. Como recompensa pelo bom rendimento escolar este ano, ele foi um dos 60 alunos da rede pública municipal do complexo de favelas selecionados para assistir à primeira sessão do Cinecarioca Nova Brasília.
Todos os 12 funcionários do cinema são moradores da comunidade, entre eles o gerente, Wellington Cardoso, 28 anos, que participou da seleção de currículos na associação de moradores. Formado em administração, ex-funcionário de uma agência bancária e há oito meses desempregado, ele afirmou que teve o melhor fim de ano possível.
;É emocionante, porque a gente consegue uma cultura melhor para o morador e dá essa oportunidade para as crianças adquirirem essa cultura;, disse.
Com capacidade para 91 espectadores, entre eles cinco lugares para portadores de necessidades especiais, a sala de projeção terá quatro sessões diárias com tecnologia 3D, equivalente ao sistema de grandes redes exibidoras, com ingressos a preços populares. A inteira custa R$ 8, mas todos os moradores do complexo de favelas terão direito à meia-entrada (R$ 4).
;O cinema no Brasil virou um programa de luxo, uma espécie de cultura de butique, só tinha em shoppings, e essas casas populares são uma volta do cinema ao seio do povo;, defendeu o cineasta Cacá Diegues, diretor do filme Cinco Vezes Favela.
A auxiliar de serviços gerais Erenita Mendes Evangelista, 55 anos, afirmou que pensou em abandonar a residência por causa da criminalidade. Avó de dois meninos, de 8 e de 5 anos, ela disse que os netos nunca foram ao cinema, já que ;ninguém [da família] nunca teve tempo para levar. E agora fica mais fácil com um [cinema] aqui na comunidade;. ;Ano passado não teve alegria aqui não. Eu não tinha nem prazer de passar o Natal aqui. Este ano vai ser bem melhor, porque ano passado era bala para lá, bala para cá;, contou Erenita.
Aposentado e vizinho da sala de exibição, Moacir Moraes, 79 anos, afirmou que está pronto para conviver com a cultura na porta de casa, em vez da violência do tráfico de drogas. ;Eu moro aqui desde quando não tinha nem água, não tinha luz, aí foi melhorando, melhorando, que chegou aonde chegou. Porque aqui é lugar bom. Tem até cinema, que nunca teve. Está melhorando;.
Em frente ao cinema também foi instalada uma quadra poliesportiva, que integra o projeto de revitalização da área. O prefeito, Eduardo Paes, reafirmou que a ocupação da localidade pelas forças do Estado é apenas o começo do resgate da cidadania dos moradores do Complexo do Alemão. ;E vamos buscar cada vez mais qualificar esse lugar, trazer serviços, lazer. A gente está muito feliz de poder trazer paz para essa comunidade no Natal, novos equipamentos públicos e novos serviços;, afirmou.