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Consumo de substâncias ilícitas é maior nas escolas privadas, aponta Senad


Estudantes de escolas particulares experimentam mais drogas do que alunos de escolas públicas. Levantamento nacional sobre o consumo de substâncias psicotrópicas desenvolvido pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) mostra que um em cada quatro estudantes brasileiros, dos ensinos médio e fundamental, já experimentou algum tipo de entorpecente, que não álcool ou cigarro. Desse grupo, mais de 30% são da rede privada, enquanto 24,2% frequentam escolas públicas.

Uma das hipóteses sugeridas pelo professor Elisaldo Carlini, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), responsável pelo estudo, é o fato de os alunos da rede privada de ensino terem maior poder aquisitivo. ;Eles têm mais dinheiro, o que facilita o acesso aos entorpecentes. E também frequentam ambientes vulneráveis ao consumo dessas substâncias com maior facilidade;, diz. Mas, de acordo com o especialista, apesar da experimentação ser maior nesse grupo, o uso frequente (que, para a pesquisa, equivale a seis ou mais vezes nos últimos trinta dias desde a resposta ao questionário), ou pesado (vinte ou mais vezes no mesmo período) ocorre com maior intensidade entre estudantes de escolas públicas.

Outro dado preocupante diz respeito ao aumento do consumo de cocaína entre os estudantes. Nos últimos seis anos, a quantidade de alunos que já usou, ao menos uma vez na vida, a substância passou de 2% para 2,8%. O índice crescente é alarmante para as autoridades de saúde pública. ;Por serem consideradas drogas estimulantes, o usuário de cocaína tem maior probabilidade de procurar o crack;, explica Juliana Peroni, psicóloga do Centra, um centro de encaminhamento e tratamento psicossocial de dependentes químicos.

Das cinco drogas mais consumidas ; solventes, maconha, ansiolíticos, cocaína e anfetamínicos ; a cocaína foi a única que apresentou aumento de uso entre 2004 e 2010. Para a secretária-adjunta da Senad, Paulina Duarte, a diminuição do consumo dos demais entorpecentes entre os estudantes é reflexo das políticas sociais e educacionais do governo, e também do combate ao tráfico.

Apenas 0,7% dos estudantes admitiram já ter experimentado crack. Mas, segundo a secretária-adjunta, o índice pode não representar a realidade. ;Como a dependência do crack se instala muito rapidamente e causa isolamento social, talvez o usuário não esteja nas escolas;, diz. A secretária afirma que, em fevereiro do próximo ano, serão divulgadas informações de uma pesquisa somente sobre o crack, que possibilitarão uma análise mais concreta sobre o consumo da substância.

O levantamento foi realizado nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, com 50.890 estudantes. Mais de 700 escolas colaboraram com o estudo, sendo 35,2% delas da rede privada e 64,8% da rede pública de ensino. Carlini alertou que durante o levantamento a equipe percebeu resistência de algumas escolas particulares e muitas se negaram a contribuir com a pesquisa. ;Essa atitude pode demonstrar uma tentativa de evitar o assunto;, afirma.


Mistura perigosa

As jovens consomem mais calmantes e remédios para emagrecer do que os estudantes do sexo masculino. Já os meninos optam por maconha e cocaína. O sexto levantamento realizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) apontou as diferenças de consumo de substâncias psicotrópicas entre alunas e alunos de escolas públicas e privadas.

Os solventes e inalantes foram as drogas mais usadas no último ano pelos jovens. Substâncias como o loló e o lança-perfume foram consumidas por 7,2% dos estudantes do sexo masculino de escolas privadas, superando o uso dos produtos do mesmo tipo entre alunos também do sexo masculino de escolas públicas, 5,5%. Mas a droga preferida das estudantes de escolas particulares são os ansiolíticos, os calmantes ; 6% delas fizeram uso da substância no último ano, contra 2,9% das alunas da rede pública.

Elas experimentam cigarro e bebidas alcoólicas mais do que eles. Mais da metade das estudantes (62,1%) já consumiu álcool ao menos uma vez na vida, e 17,3% delas já experimentaram tabaco. Também mais da metade dos homens que frequentam a escola também já provaram bebidas alcoólicas (58,9%) e cigarro (16,4%).

Mas eles fumam mais do que elas. Enquanto 10% dos estudantes homens da rede pública fumaram no último ano, 7,6% das meninas que frequentam escolas particulares também o fizeram.

Ao comparar a pesquisa atual com a realizada em 2004, apenas em escolas públicas, o estudo constatou queda do consumo tanto de álcool quanto de tabaco entre os estudantes. Há seis anos, 15,7% dos alunos admitiram ter fumado cigarro e 63,3% tomaram bebidas alcoólicas. Em 2010, o consumo foi de 9,8% e 41,1%, respectivamente.

Elisaldo Carlini, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), responsável pelo estudo, destacou o consumo de álcool combinado com energético entre os jovens. A preocupação é maior quanto aos estudantes da rede privada, 31% dos alunos e 29,5% das alunas já tomaram alguma vez na vida a combinação entre essas substâncias. Segundo Carlini, a popular mistura potencializa os efeitos psicotrópicos do álcool e podem trazer complicações à saúde dos jovens. (CK)