Embora o país tenha um número bem maior de mulheres do que de homens ; 4 milhões a mais, na realidade ;, 61% das cidades brasileiras registram população masculina superior à feminina. Uma das explicações está nas zonas rurais, onde a demanda pela mão de obra pesada é maior. Segundo o demógrafo do IBGE Luiz Antônio Pinto de Oliveira, o fenômeno se explica a partir da predominância da população masculina nas pequenas cidades, locais onde são desenvolvidos os trabalhos mais pesados, como agropecuária, exploração de madeiras e extrativismo. ;São trabalhos mais brutos, que empregam mais homens;, explicou. ;Por outro lado, as mulheres têm a tendência de migrar para os grandes centros urbanos.;
Oliveira avalia que a maior quantidade de mulheres idosas em comparação à de homens colabora para que a população feminina seja maior nas metrópoles. Os números do IBGE apontam que a expectativa de vida das mulheres que nasceram em 2009 é de 77 anos, enquanto a dos homens é de 69 anos. ;Nas idades mais jovens, o Brasil continua tendo mais mulheres, mas a diferença não é tão grande como na faixa etária dos idosos, quando a diferença se acentua;, destacou o demógrafo.
Para ele, esse desequilíbrio entre homens e mulheres, quando pequeno, não se traduz em prejuízo para a cidade. A coordenadora de Gênero do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Natália Fontoura, observa, porém, que diferenças como a verificada em Balbinos (SP), onde mais de 80% da população é masculina, resultam em um desequilíbrio indesejável. ;Pode haver dificuldade até para os homens conseguirem se casar;, acredita.
Segundo o demógrafo do IBGE, as maiores disparidades verificadas pelo Censo (leia quadro ao lado) dizem respeito a cidades que têm características próprias: algumas com a economia voltada para uma atividade que requer mão de obra essencialmente masculina, outras com presídios, como Balbinos, onde há mais de mil detentos entre os 3,9 mil moradores.
No Entorno, dois municípios se destacam pela predominância de homens: Águas Lindas e Cocalzinho de Goiás. Nessa segunda, não se observam nas ruas os números mostrados pelo Censo, de que há 8.937 homens (51,39%) e 8.454 mulheres (48,61%). Na sede do município e também nos distritos de Edilândia e Girassol, que pertencem a Cocalzinho, a impressão que se tem é de que há mais pessoas do sexo feminino.
;Até eu me assustei quando vi esses dados. Onde estão esses homens?;, questionou o chefe de gabinete da Prefeitura de Cocalzinho, Carlos Pedrosa, que fez parte da comissão do Censo. A filha dele, a vendedora Jéssyka Pedrosa, 18 anos, também estranhou o fato de o Censo ter mostrado que a cidade tem menos mulheres. ;A gente vai para festa e só vê mulher;, reclamou.
Morador de Girassol, o borracheiro Deusdete Alves, 44 anos, confirma a tese de que nas ruas é nítido que há mais mulheres. ;Sou casado, mas na cidade tem mulher a rodo;, comentou. Moradora de Edilândia, a agente comunitária de saúde Nádia Lúcia Pozzebon, 54, também disse que na localidade onde reside a população feminina é maior. ;É visível.;
A comerciante Eliene Silva, que mora há dez anos em Girassol, dá uma das pistas para a comprovação dos números do IBGE. Segundo ela, ;muitas mulheres trabalham em Brasília e voltam só no fim de semana para Goiás;. A explicação para o fenômeno também pode estar na declaração do trabalhador de uma fazenda do município de Cocalzinho. ;Parece que aqui tem mais homem que mulher, na área rural principalmente;, disse Divino José Leandro, 57, pai de dez filhos.
Com a economia baseada na pecuária e na plantação de soja e milho, além da exploração de pedreiras, de minério e de uma fábrica de cimento, Cocalzinho é uma cidade essencialmente rural. Os números mostram que, dos 17,3 mil habitantes do município, 10,9 mil estão no campo, fato que pode justificar os índices do Censo.
Já em Águas Lindas, município com quase 100% da população na área urbana, os moradores percebem nas ruas que há mais pessoas do sexo masculino, embora a diferença seja pequena: de menos de 200 homens a mais que mulheres. O autônomo Paulo Henrique França, 26, considera que a impressão de que há mais homens se justifica porque muitas moradoras de Águas Lindas passam o dia ou mesmo a semana em Brasília. ;As mulheres daqui estão escondidas;, brincou.