Rio ; Um dos principais quartéis do tráfico de drogas do Rio de Janeiro perdeu seu título de fortaleza inviolável e foi vasculhado ontem por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Polícia Militar. Depois da operação de retomada da Vila Cruzeiro, os policiais fizeram varredura em busca de drogas, armas e criminosos. Até a noite de ontem, os policiais descobriram na fortaleza tombada aproximadamente 1 tonelada de maconha e produtos químicos utilizados para o refino de cocaína.
Durante as buscas, os agentes chegaram a um mini-hospital de campanha que seria usado para atender traficantes feridos em confrontos com facções rivais ou com a polícia. A enfermaria do tráfico era equipada com leito, maca e medicamentos para sutura e primeiros socorros.
A operação de apreensão na Vila Cruzeiro indica que a maioria dos traficantes que atuava na comunidade fugiu levando as armas. No quartel general do tráfico foram encontrados apenas cinco fuzis, duas metralhadoras e um revólver calibre 38. Caixas fechadas com aproximadamente mil munições, uma granada e 48 bombas de fabricação caseira também foram deixadas para trás depois da fuga dos bandidos rumo ao Complexo do Alemão.
Os policiais encontraram ainda frota de carros e motos utilizadas pelo tráfico. Carros de menor valor eram utilizados como barricada para impedir a passagem das viaturas pelas vielas. Mas o que chamou a atenção dos agentes foi o grande número de motos roubadas. Cerca de 200 motos, algumas delas ; informou o diretor do Departamento de Polícia Especializada da Civil, Ronaldo Oliveira ; avaliadas em R$ 80 mil.
De todo o cenário exposto nas ruas, com tanques de guerra, homens camuflados e muitos fuzis à mostra, o que mais aterroriza os moradores dos complexos da Penha e do Alemão, as duas áreas onde a Polícia Militar do Rio de Janeiro realiza incursões desde a quarta-feira, são os tiros. A cada sequência de estampidos, pessoas correm para dentro dos comércios, encostam-se nas paredes externas das lojas que preferiram baixar as portas mais cedo e até entram na casa de desconhecidos. A sensação de insegurança se mistura com uma ponta de revolta por, em plena sexta-feira, depois de um dia cansativo de trabalho, não poder chegar ao lar.
As pessoas mais velhas são visivelmente as mais abaladas. Empregada doméstica, Rejane Maria da Silva, 60 anos, teve de se refugiar em um comércio improvisado na Estrada de Itararé, via que circunda o Complexo do Alemão e ponto de entrada no conjunto de favelas escolhido ontem pela polícia para ser ocupada. ;Desde quatro da tarde estou aqui, não posso ir para casa no meio desse tiroteio;, afirmou. O dono do local onde Rejane buscou refúgio, que se apresenta como Pelé, parece mais calmo. ;Não há o que fazer, a gente tem que esperar. Enquanto isso, tomamos uma cervejinha;, brincou o comerciante.