Depois de 18 meses de investigação, a Polícia Federal conseguiu desbaratar uma organização criminosa que atuava no Brasil e foi responsável pelo tráfico de cocaína para Europa e Ásia. A droga vinha da Bolívia e era levada para o interior de São Paulo, onde era refinada e enviada para o exterior. No período da apuração da PF, que gerou a Operação Deserto, desencadeada ontem, o esquema tentou enviar mais de duas toneladas de pó para vários países e abasteceu o mercado interno, como o Rio de Janeiro e a capital paulista. Ao todo, foram 50 prisões temporárias, sendo que 22 pessoas já estavam detidas. Entre as detenções, havia sete traficantes procurados pela Polícia Criminal Internacional (Interpol).
O esquema começou a ser investigado a partir da descoberta de um carregamento de droga na cidade paulista de Arujá. Na ocasião, a Polícia Federal encontrou 600kg de cocaína, que seriam preparados para exportação e misturados com outras substâncias e, provavelmente, acabariam comercializados no Brasil. Segundo o delegado Ivo Roberto Costa da Silva, coordenador da Operação Deserto, a organização criminosa era dividida em quatro células. ;Eles tratavam desde a internação da droga no país até o envio a Europa e Ásia;, explicou. O grupo tinha o interior paulista como base, mas havia ramificações no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, no Paraná, no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais.
A partir das primeiras investigações, a Polícia Federal começou a descobrir outros negócios da quadrilha, como um laboratório de refino na zona rural de Arujá, uma das bases da organização. No mesmo local foram apreendidas 10 granadas antitanques e várias armas e munições, além de 220kg de cocaína. ;A descoberta aconteceu dois meses depois da primeira apreensão;, afirmou Silva. Pouco depois, a PF reteve 500kg de pó em um depósito na cidade gaúcha de Rio Grande, zona portuária do estado. ;Acreditamos que a cocaína iria para a Europa em meio a cereais;, observa o delegado.
A célula inicial da quadrilha estava na Bolívia e era liderada por dois irmãos colombianos. Radicados em Santa Cruz de La Sierra, eles eram os responsáveis pela remessa ao Brasil, por via aérea ou terrestre, de forma sofisticada. A cocaína, que normalmente vinha em pacotes dentro das aeronaves, era colocada na fuselagem e nas asas dos aviões, sem que fosse percebida em casos de abordagens. ;No Brasil eles usavam pistas de pouso clandestinas ou pequenos aeroportos do interior;, conta o delegado.