Belo Horizonte ; A juíza Marixa Fabiane Lopes, responsável pelo processo do caso Bruno, reafirmou ontem sua convicção de que Eliza Samudio está morta e que o goleiro e os demais acusados tiveram participação no crime, como apontado na denúncia do Ministério Público. Ela deu as declarações ao ler um documento antes da audiência em que o atleta foi ouvido. Essa posição e o fato de ter dito, ;pensando alto e fora do microfone;, que Sérgio Rosa Sales, um dos presos, seria um bom ator, levaram advogados de defesa a entrarem com pedido de exceção de suspeição, na 2; Vara do Tribunal do Júri de Contagem.
O requerimento, rejeitado pela própria juíza, será avaliado pelo Tribunal de Justiça. Se acatado, ela ficaria impedida de prosseguir presidindo o julgamento. De acordo com o advogado de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Wasley Vasconcelos, a juíza já teria tomado partido ao incriminar os acusados. ;Com isso, ela fere de morte o princípio do contraditório, pois assim afirmando se mostra convencida da culpa dos réus, ancorada nos autos do inquérito policial;, argumentou o defensor em seu pedido.
Ao depor ontem, Bruno Fernandes, 26 anos, confirmou a versão de que sua ex-amante Eliza Samudio foi agredida na Range Rover que pertence a ele, mas negou que tenha sido atingida por uma coronhada na cabeça. Ele mencionou ;uma pancada no nariz;, desferida pelo adolescente de 17 anos que já cumpre medida socioeducativa pelo sumiço da ex-modelo paranaense. O veículo era supostamente dirigido por Macarrão em 4 de junho. O goleiro assegura que não estava presente. Um exame de DNA indicou que o sangue encontrado no carro era de Eliza.
O goleiro afirmou que não havia prestado depoimento à Polícia Civil ;porque os delegados entraram na onda do que o menor tinha dito;. Bruno qualifica a versão da arma e a de que a vítima foi estrangulada, esquartejada e teve partes do corpo lançadas a cães como ;mentirosa;. Ele começou a responder às perguntas às 10 horas. Até o início da noite de ontem, apenas ele havia sido ouvido. Sobre as acusações de sequestro e de cárcere privado, Bruno disse que a viagem feita do Rio de Janeiro a Minas Gerais teria ocorrido a pedido de Eliza, a quem acusa de ter ameaçado fazer um escândalo em seu trabalho (no Flamengo) caso ele não seguisse pagando suas despesas após o início da gravidez atribuída a ele. De acordo com o jogador, ele vinha repassando R$ 1,5 mil mensais a ela, em dinheiro.
Ameaças
Durante o percurso, segundo o atleta, a modelo teria feito novas ameaças e, discutindo com Macarrão e o adolescente, ofendido sua imagem. Essa teria sido a razão da agressão praticada pelo menor. O bebê, que seria filho de Bruno, estava na Range Rover. Depois do episódio, Eliza teria exigido R$ 50 mil, alegando que tinha contas a pagar em São Paulo.
Ele confirmou que Eliza e o bebê dormiram em sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, antes de viajarem para Minas Gerais. No sábado, Bruno conta que se reuniu com Macarrão e eles combinaram entregar a Eliza R$ 30 mil. Ele atribui à ex-amante a ;insistência; para viajar para Minas, onde receberia o dinheiro. O goleiro afirmou ter proposto depositar a quantia numa conta bancária, mas disse que a sugestão não foi aceita por falta de confiança de Eliza. Sobre o sumiço dela, afirmou que foi ;por vontade própria;.
Bruno também falou de supostos problemas financeiros. ;A minha vida foi regredindo. As pessoas diziam que eu estava sendo passado para trás, roubado. Eu não tinha dinheiro nem para pagar gasolina e as minhas dívidas aumentaram;, declarou o goleiro, revelando que recebia um salário mensal de R$ 120 mil.
Durante o depoimento, o advogado do goleiro, Ércio Quaresma, foi repreendido pela juíza Marixa. Após a pausa para o almoço, Quaresma dormia e roncava em um canto do plenário do Tribunal do Júri. Em frente ao fórum em que Bruno prestou depoimento, o muro de uma empresa apareceu pichado com a seguinte frase: ;Bruno, você já comeu o filé. Entrega o osso;. A assinatura é de ;Os abusados;.